segunda-feira, 28 de julho de 2014

O que é Reserva Legal?

O atual Código Florestal define a Reserva Legal como:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa;

A reserva legal é a área do imóvel rural que, coberta por vegetação natural, pode ser explorada com o manejo florestal sustentável, nos limites estabelecidos em lei para o bioma em que está a propriedade. Por abrigar parcela representativa do ambiente natural da região onde está inserida e, que por isso, se torna necessária à manutenção da biodiversidade local.



No Brasil, a Constituição da República garante a todos o direito tanto a um meio ambiente diverso e sustentável, como o direito ao desenvolvimento econômico. Não é difícil perceber que a busca da realização de um destes direitos pode vir a conflitar com o outro. O instituto da Reserva Legal é mais um dos instrumentos pelos quais o legislador brasileiro busca criar uma ponte entre estes dois interesses fundamentais.

O primeiro conceito de Reserva Legal surgiu em 1934, com o primeiro Código Florestal. Foi atualizado em 1965, na Lei Federal nº 4.771 (o Código Florestal recentemente revogado) que dividia as áreas a serem protegidas de acordo com as regiões, e não pelo tipo de vegetação como é no atual Código. Fixava um mínimo de 20% a ser mantido nas "florestas de domínio privado" na maior parte do país, ressalvando uma proibição de corte de 50% nas propriedades "na região Norte e na parte Norte da região Centro-Oeste".

Hoje, como visto anteriormente, o conceito é mais restritivo. A Reserva Legal, que junto com as Áreas de Preservação Permanente tem o objetivo de garantir a preservação da biodiversidade local, é um avanço legal na tentativa de conter o desmatamento e a pressão da agropecuária sobre as áreas de florestas e vegetação nativa. Ambientalistas defendem a sua preservação, o setor produtivo argumenta se tratar de intromissão indevida do Estado sobre a propriedade privada, o que diminuiria a competitividade da agricultura e a capacidade de produção do país.

O percentual da propriedade que deve ser registrado como Reserva Legal vai variar de acordo com o bioma e a região em questão, sendo: 80% em propriedades rurais localizadas em área de floresta na Amazônia Legal; 35% em propriedades situadas em áreas de Cerrado na Amazônia Legal, sendo no mínimo 20% na propriedade e 15% na forma de compensação ambiental em outra área, porém na mesma microbacia; 20% na propriedade situada em área de floresta, outras formas de vegetação nativa nas demais regiões do país; e 20% na propriedade em área de campos gerais em qualquer região do país (art. 12).


Cabe a todo proprietário rural o registro no órgão ambiental competente (estadual ou municipal) por meio de inscrição no Cadastro Ambiental Rural - CAR. As especificidades para o registro da reserva legal vão depender da legislação de cada Estado. Uma vez realizado o registro fica proibida a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão ou de desmembramento, com exceção das hipóteses previstas na Lei (art. 18). Em geral, nas áreas de reserva legal é proibida a extração de recursos naturais, o corte raso, a alteração do uso do solo e a exploração comercial exceto nos casos autorizados pelo órgão ambiental via Plano de Manejo ou, em casos de sistemas agroflorestais e ecoturismo.

Fonte: O Eco

quarta-feira, 23 de julho de 2014

2ª visita técnica do Projeto Levantamento Paisagístico de Nova Friburgo - Cônego > Pedra do Imperador

No dia 28.06.2014 foi realizada a segunda visita técnica do Projeto Levantamento Paisagístico de Nova Friburgo, parceria do CECNA e da ETR. O trajeto percorrido foi entre o bairro do Cônego e o cume da Pedra do Imperador, um percurso de 05 km.

O bairro do Cônego, juntamente com os do Cascatinha, Vargem Grande, Caledônia, Garrafão e Sítio São Luiz, está inserido em uma microbacia hidrográfica, que tem como principal canal de drenagem natural o rio Cônego, que no centro de Nova Friburgo se junta ao rio Santo Antônio, que vem de Mury, para formar o rio Bengalas. Essa microbacia é circundada por montanhas e morros de elevadas altitudes e grandes inclinações, como o Caledônia, o Garrafão, Chapéu da Bruxa, Pedra da Pirâmide, Pico do Von Veigl, Catarina Pai e a própria Pedra do Imperador.

Além disso há apenas duas vias de acesso, sendo elas a Via Expressa, a Rua Romão Aguilera Campos, a qual liga ao bairro de Olaria. Existem outras vias, como a estrada que liga a localidade do Garrafão a Mury e a estrada Cascatinha - São Lourenço, mas ambas não estão em operação atualmente devido ao estado precário da pavimentação.

O Cônego possui uma alta taxa de urbanização, porém a renda dos moradores do bairro é uma das mais altas do município, o que se revela pelo padrão arquitetônico das suas casas, em grande parte construções amplas e com quintais arborizados. Há também uma valorização imobiliária grande, acompanhando o mercado em geral, mas motivadas recentemente também pelo fato da região não ter sido atingida pelas chuvas intensas de janeiro de 2011, o que fez haver uma grande corrida por imóveis no bairro.

Uma das consequências mais importantes dessa acelerada valorização é o surgimento de conjuntos residenciais de três a quatro pavimentos (ver imagens 13,16 e 17 abaixo). Cada prédio desses ocupa o lugar que poderia ser de apenas uma casa. Portanto esse é um fenômeno que contribui grandemente para o crescimento demográfico do bairro, o que pressionará cada vez mais os serviços públicos para a população que vive na microbacia, sobretudo nos quesitos transporte e fornecimento de água.

Além do Cônego, outras localidades mais elevadas, como Sítio São Luiz e Vargem Grande, experimentam igualmente um crescimento populacional como o Cônego, porém os moradores desses bairros possuem uma renda mais baixa e as casas apresentam entre si um distanciamento menor, o que no futuro pode ocasionar uma densidade semelhante a bairros vizinhos como o Alto de Olaria, com o risco social em potencial que essa realidade pode provocar, caso o poder público não atue para minimizar as consequências.

Apesar da alta taxa de ocupação e do espaço exíguo, ainda há grandes áreas não ocupadas no sopé das montanhas citadas anteriormente. Em alguns pontos já observa-se loteamentos sendo iniciados (ver imagem 18), seja para um parcelamento clássico para construções de casas independentes, seja para a instalação de novos condomínios e conjuntos residenciais.

Quanto à cobertura vegetal, esta encontra-se extremamente comprometida. Apenas nas áreas onde o relevo é bastante inclinado e acidentado pode-se observar vegetação florestal nativa, destacando-se fragmentos abaixo dos paredões rochosos da Pedra do Imperador, do Garrafão e Catarina Pai e Von Veigl. O maciço do Caledônia em especial é muito sujeito a incêndios, sobretudo durante os meses de seca entre agosto e outubro. Esses incêndios sempre tem origem ou como vandalismo ou irresponsabilidade e imprudência, como queimar lixo ou "limpar" o terreno e perder o controle do fogo, e esse se espalhando por uma grande área.

Apesar de todas as dificuldades e desafios, o cume da Pedra do Imperador descortina ainda uma belíssima paisagem, destacando-se a amplitude de visão que permite observar desde o conjunto dos Três Picos de Salinas até a Pedra Riscada e Pico da Sibéria, ambos em Lumiar, passando por todas as montanhas do vale do Bengalas no centro de Nova Friburgo e da serra de Macaé de Cima (ver imagens 3 a 9). Com o acesso fácil por uma estrada em boas condições e depois uma trilha curta, sem dúvida se torna um dos melhores custo-benefícios para quem deseja desfrutar das paisagens friburguenses.

As imagens abaixo estão disponíveis também no perfil do CECNA no Panorâmio, clique AQUI para acessar.



Mapa 1: Localização do trajeto em relação ao território de Nova Friburgo

 Mapa 2: Localização do trajeto em imagem de satélite

Imagem 1: Vista da Pedra do Imperador no início do trajeto

Imagem 2: Vista parcial do Cônego e da pedra da Catarina Mãe ao fundo

Imagem 3: Panorâmica dos bairros do Cônego e do Cascatinha, com os dois conjuntos rochosos mais importantes de Nova Friburgo, o Caledônia em primeiro plano e os Três Picos ao fundo

Imagem 4: Panorâmica 180º do cume da Pedra do Imperador, de onde avista-se parte do vale do rio Cônego, a esquerda, e parte do vale do rio Bengalas, a direita, no qual se encontra o centro de Nova Friburgo

Imagem 5: zoom nos Três Picos de Salinas, sendo o Pico Maior o ponto culminante de toda a Serra do Mar

Imagem 6: Destaque para o maciço do Caledônia, com suas torres de retransmissão próximas ao cume

Imagem 7:  Destaque e zoom para a Pedra do Faraó, ponto de tríplice limite dos municípios de Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu e Silva Jardim

Imagem 8: Destaque e zoom para o Pico da Sibéria (esquerda) e a Pedra Riscada (direita ao fundo), na direção da distante localidade de Lumiar, demonstrando a excelente visão da região proporcionada pelo cume da Pedra do Imperador

Imagem 9: Destaque para as Duas Pedras e o Morro da cruz, no centro de Nova Friburgo

Imagem 10: Conjunto residencial de casas próximo ao Sítio São Luiz, em um nível abaixo da média dos bairros do Cônego e Cascatinha

Imagem 11: os bairros do Cônego e Cascatinha contam no geral com uma boa arborização que contribui para a regularização do microclima e consequente qualidade de vida dos moradores

Imagem 12: Amostra do alto padrão de casas existentes no bairro do Cônego

 Imagem 13: Amostra do alto padrão de casas existentes no bairro do Cônego (2)

 
Imagem 14: Amostra do alto padrão de casas existentes no bairro do Cônego (3)

Imagem 15: Amostra do alto padrão de casas existentes no bairro do Cônego (4)

Imagem 16: Conjunto residencial construído em um local alto e isolado do restante do bairro, e com muitas unidades habitacionais, contribuindo para o adensamento populacional do bairro do Cônego

Imagem 17: Outro exemplo de conjunto residencial no bairro

Imagem 18: Exemplo de uma área já loteada, com arruamento e postes para fiação elétrica e de comunicações, preparada para receber futuras construções

Imagem 19: Vista do bairro do Alto de Olaria. Ao contrário do Cônego, esse bairro possui um adensamento muito maior de construções, com pouca arborização nas casas e de menor renda que o anterior

Imagem 20: Outra imagem do Alto de Olaria, mais aproximada, podendo-se observar melhor os detalhes das construções

Imagem 21: Vista da Via Expressa no bairro de Olaria. Observa-se uma das poucas áreas planas ainda não construídas no populoso bairro, porém em vias de receber outros prédios de um conjunto residencial

Imagem 22: Vista e zoom do centro de Nova Friburgo

Imagem 23: Destaque para o bairro da ponte da Saudade, entrada do município de Nova Friburgo de quem vem do Rio de Janeiro capital

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Rio não conseguirá cumprir as metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos

Dois anos após o encerramento oficial das atividades do aterro sanitário de Jardim Gramacho, na Baixada Fluminense, até então considerado o maior da América Latina e que chegou a acumular 60 milhões de toneladas de lixo em uma área de 1,3 milhão de metros quadrados, o Rio de Janeiro ainda procura uma solução duradoura e sustentável para o gerenciamento de seus resíduos sólidos. Com publicação prevista para logo após o reinício dos trabalhos legislativos no segundo semestre, um relatório elaborado pela Comissão Especial sobre Lixões instituída na Assembleia Legislativa (Alerj) afirma que o Rio ainda está longe de cumprir as metas estabelecidas na Política Nacional de Resíduos Sólidos do governo federal (Lei 12.305/2010), que exige dos governos locais a completa erradicação, até o dia 2 de agosto, de todos os lixões existentes no Brasil.

Aterro de Gramacho desativado

A principal ação desta fase “pós-Gramacho” foi o fechamento do segundo lixão mais utilizado do estado, o aterro sanitário de Gericinó, localizado na Zona Oeste da capital. Receptáculo de quase duas mil toneladas diárias de resíduos sólidos domésticos provenientes da zona metropolitana do Rio de Janeiro, o aterro encerrou oficialmente suas atividades em abril e continua a receber apenas entulhos resultantes de demolições ou rejeitos de obras de construção civil. O fechamento de Gericinó é mais uma iniciativa do poder público para tentar equacionar o tratamento do lixo produzido pelos municípios fluminenses, mas alguns gargalos persistem e em muitos casos ainda é preciso encontrar locais adequados para o depósito dos resíduos sem sobrecarregar determinados municípios ou ainda adotar formas eficientes de coleta, tratamento e reciclagem do lixo produzido.

O governo do Rio de Janeiro diz esperar cumprir o determinado pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), fazendo com que ainda este ano os 92 municípios fluminenses passem a descartar seu lixo em aterros sanitários controlados. Todos os esforços neste sentido passam pelo programa Lixão Zero, coordenado pela Secretaria Estadual do Ambiente (SEA). A secretaria informa que “ao final do ano passado, 62 cidades já descartavam seu lixo em locais ecologicamente corretos, com 93,45% dos resíduos sólidos urbanos sendo dispostos em aterros sanitários, totalizando 15.856 toneladas/dia”. Ainda segundo o governo estadual, já foram erradicados todos os lixões nos 15 municípios banhados pela Baía de Guanabara.

Embora admita que ainda existam 20 pontos ilegais de coleta de lixo em funcionamento no estado, que recebem cerca de 3% do lixo produzido diariamente, a SEA afirma que todos os 92 municípios fluminenses estarão despejando até o fim de 2014 um total de 16.970 toneladas de lixo por dia em 27 aterros sanitários controlados. Segundo estudo realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), foram coletadas em 2012, no Rio de Janeiro, 20.450 toneladas diárias de lixo, sendo que apenas 68,1% desse total era destinado a aterros sanitários.
Clique no mapa para ampliar

Ambientalista e consultor do estudo realizado pela comissão especial da Alerj, Sérgio Ricardo de Lima é cético quanto ao cumprimento das metas do PNRS pelo estado: “No Plano existem várias outras obrigações, além da desativação dos lixões. Há, por exemplo, o Plano Municipal de Resíduos Sólidos, que apenas quatro municípios fluminenses, até três meses atrás, tinham elaborado. Há 88 inadimplentes. Sem esse plano, esses municípios ficarão proibidos de receber recursos federais já a partir de 2014 em ações de gerenciamento de lixo, drenagem urbana e saneamento básico”, diz, acrescentando que “mais de 90% dos recursos nessa área vem hoje do governo federal, principalmente via Ministério das Cidades, mas também via ministérios da Saúde e do Meio Ambiente”.

Outra obrigação estipulada pelo PNRS, continua Sérgio Ricardo, é a implementação de programas de coleta seletiva: “Não vimos a adoção de programas de coleta seletiva em larga escala em nenhum município fluminense. Mais de 50% deles não tem nada. Todos os municípios, de acordo com a lei de resíduos sólidos, devem implantar a coleta seletiva, mas as ações existentes são pontuais e insuficientes. O município do Rio de Janeiro, por exemplo, recicla meio por cento de seu lixo, um patamar muito baixo e um dos índices de reciclagem mais baixos do país. A prefeitura faz propaganda de que vai quadruplicar a coleta seletiva, mas quadruplicar meio por cento?”, questiona.

Foco principal do relatório produzido pela Comissão Especial dos Lixões da Alerj, a inclusão social e econômica dos catadores de lixo é outra meta obrigatória do PNRS que, segundo o ambientalista, não está sendo cumprida pelos governos estadual e municipais: “Os projetos que hoje existem em cidades como Niterói, São Gonçalo e Arraial do Cabo são desenvolvidos por ONGs, em geral financiados pela Petrobras. Não são programas dos municípios, embora existam algumas parcerias com prefeituras”, diz.

Consórcios Intermunicipais

Segundo a SEA, a participação do poder público municipal é fundamental para o cumprimento das metas do PNRS. Atualmente, estão em atividade seis Consórcios Públicos Intermunicipais de Gestão de Resíduos Sólidos criados pelo governo estadual: Centro Sul, Baixada Fluminense, Região dos Lagos, Noroeste Fluminense, Vale do Café e Região Serrana 2. Dois outros consórcios – Sul Fluminense e Região Serrana 1 – estão em fase final de estruturação. Outro mecanismo de gestão são os Arranjos Regionais, que agrupam municípios que não integram nenhum consórcio, mas pretendem enviar seus resíduos a um aterro sanitário comum. Um mapa dos Arranjos Locais pode ser visto no site da SEA na internet.

Outra ação considerada prioritária pelo governo é a implantação de Centros de Tratamento de Resíduos (CTR), que funcionam como locais de triagem dos diversos tipos de lixo. Segundo a SEA, já foram instalados ou estão em fase final de instalação CTRs ou aterros controlados nos municípios de Angra dos Reis, Barra Mansa, Belford Roxo, Campos, Itaboraí, Macuco, Macaé, Miguel Pereira, Nova Iguaçu, Nova Friburgo, Paracambi, Piraí, Rio das Ostras, Santa Maria Madalena, São Fidélis, São Gonçalo, São Pedro da Aldeia, Sapucaia, Seropédica, Teresópolis e Vassouras.

Sérgio Ricardo afirma que “o conceito de tratamento regionalizado dos resíduos sólidos é correto e sempre foi defendido pelos ecologistas”, mas acrescenta que “o resultado do que foi implantado no Rio de Janeiro é uma brutal transferência de dinheiro público à iniciativa privada”. Neste processo, diz, a busca pelo lucro é maior do que as preocupações ambientais: “Os aterros regionais são construídos com dinheiro do Fecam (Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano), com recursos dos royalties do petróleo, e depois isso é repassado, sem licitação, às grandes concessionárias privadas. Se o aterro foi construído com dinheiro público, por que sua gestão não é feita por um consórcio de municípios ou pelo município sede? Os municípios pequenos não vão conseguir pagar essa conta”, aposta.

Magé: ameaça ao patrimônio histórico

A decisão da Justiça destaca que a região de Magé é de elevado interesse arqueológico, mas que não foram realizados previamente os necessários estudos de impacto do projeto de aterro sanitário sobre o patrimônio arqueológico ali existente.

Um recente projeto de construção de aterro sanitário no município de Magé é emblemático de uma política de gestão do lixo que ainda procura se estruturar no Rio de Janeiro. Operado pela empresa privada Terra Ambiental, o aterro receberia três mil toneladas de lixo por dia, mas, após uma onda de críticas das organizações socioambientalistas e a mobilização do Ministério Público, a licença ambiental para seu funcionamento, que havia sido concedida pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), foi anulada pela 20ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Confirmando juízo inicial da vara de Fazenda de Magé, os três desembargadores que compõem a Câmara negaram liminar interposta pela empresa e decidiram por unanimidade que o empreendimento deveria ser interrompido por trazer riscos às pessoas, ao meio ambiente e também ao patrimônio histórico e cultural da região.

A decisão da Justiça destaca que a região de Magé é de elevado interesse arqueológico, mas que não foram realizados previamente os necessários − e obrigatórios, segundo portaria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) − estudos de impacto do projeto de aterro sanitário sobre o patrimônio arqueológico ali existente: “No entorno do empreendimento existem importantes bens de valor arqueológico e cultural, como o Porto da Estrela, o leito da Estrada de Ferro de Mauá e o Paiol da Guerra do Paraguai, além de comunidades remanescentes de quilombos. Para completar, o aterro estava sendo construído dento da APA (Área de Proteção Ambiental) da Estrela”, afirma Sérgio Ricardo de Lima.

Em abril, o promotor Tiago Veras, do município de Itaboraí, que tem a jurisdição de Magé, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a prefeitura e deu prazo até 2016 para que esta construa um aterro público a ser gerido por ela mesmo ou concedido à iniciativa privada. Até lá, o lixo de Magé está sendo levado para o aterro mais próximo, que fica no município de Nova Iguaçu.

Além da questão arqueológica, segundo Sérgio Ricardo, que também é integrante do Comitê de Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara, a presença do aterro em Magé, município localizado às margens da Baía, e o decorrente acúmulo de lixo na região seriam letais para parte da fauna local, além de aumentar o risco para os seres humanos em uma área já vulnerável a inundações: “No Estudo de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) não foi analisada a presença de peixes endêmicos e outras espécies ameaçadas de extinção que constam da Lista Vermelha do Ibama e na lista de espécies ameaçadas do ICMBio. Havia ainda o risco de aumento das inundações na região, que é área de recarga de aqüíferos e rios e, portanto, considerada de extrema vulnerabilidade a inundações”, diz.

Seropédica: o herdeiro de Gramacho

Atualmente, o lixo produzido na região metropolitana do Rio de Janeiro – estimado pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) em cinco mil toneladas de lixo domiciliar e três mil toneladas de lixo coletado nas ruas a cada dia - é enviada ao CRT Santa Rosa, no município de Seropédica. O aterro sanitário, inaugurado em 2011, agora ostenta o título de “maior da América Latina” que outrora pertenceu a Gramacho, mas tem equipamentos mais modernos que o antecessor, como, por exemplo, uma estação de tratamento de chorume (líquido resultante da decomposição do lixo orgânico) que, segundo a SEA, foi inaugurada em 2013.

A escolha de Seropédica, entretanto, também é alvo de críticas. Em sua tese de doutorado, Cícero Pimenteira, pesquisador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), trata o aterro como “um erro no planejamento estratégico do estado” e lembra que ele está “situado sobre o Aqüífero Piranema e próximo ao rio Guandu, principal responsável pelo abastecimento de água do Rio de Janeiro”.

Sérgio Ricardo vai além: “Está vazando chorume no Aqüífero Piranema, que tem capacidade para abastecer aproximadamente 600 mil pessoas e seria o grande manancial do estado. Uma grande tarefa para o futuro seria preservar o Aqüífero Piranema, mas, em vez disso, o Rio de Janeiro está enterrando lá dez mil toneladas de lixo por dia”, diz.

O ambientalista afirma que, quando analisado pela Alerj, o aterro de Seropédica ainda não estava dotado de uma estação de tratamento de chorume: “A comissão só constatou uma estação de tratamento de chorume funcionando em todo o estado, que é a de Adrianópolis, em Nova Iguaçu. Nenhuma outra foi implantada, embora estejam previstas nas licenças ambientais. Uma estação como essa requer um investimento pesado do concessionário, a de Adrianópolis custou R$ 30 milhões”, diz.

Fonte: O Eco

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Como a Costa Rica virou um fenômeno verde mundial

Não é só no futebol que a Costa Rica surpreende. Com inovação, planejamento e boa gestão, este pequeno país da América Central mandou para escanteio uma das maiores taxas de desmatamento do mundo, transformando-se em exemplo de conservação ambiental e disputado destino de ecoturismo.

Na década de 70, quase 80% da cobertura florestal da Costa Rica havia praticamente desaparecido para dar espaço à criação de gado para produção de carne bovina, que tinha como principal comprador (e financiador) os Estados Unidos.


Mas isso é passado. Atualmente, mais da metade da cobertura florestal existente no país encontra-se sob a proteção de parques nacionais, reservas biológicas, ou refúgios de vida silvestre.

A vitória nessa seara só foi possível graças aos esforços do governo e da sociedade nos últimos 20 anos, a começar pela implementação de um programa de pagamento por serviços ambientais (PES).

Remunerar produtores rurais familiares e comunidades tradicionais, com o objetivo de incentivar uma mudança de comportamento para conservação da natureza, é o cerne do pagamento por serviços ambientais.

Instituído na Lei de Florestas da Costa Rica, em 1996, o programa é financiado por um imposto de energia, principalmente sobre combustíveis fósseis.

Este programa formou a base para o protagonismo do país no programa REDD+, mecanismo que busca reconhecer a contribuição das florestas em mitigar mudanças climáticas através do sequestro de carbono.

Além da fotossíntese, que captura o gás carbônico (CO2) da atmosfera, as plantas e árvores ajudam a fixar o carbono no solo. Quando são derrubadas, este carbono no subsolo é liberado.

É aí que o REDD+ , compensando países em desenvolvimento por emissões evitadas por aumento do estoque de carbono.

O sucesso dessas investidas demonstrou que desenvolvimento social e econômico pode ser importante para diminuir o desmatamento, conforme destaca relatório recente da Union of Concerned Scientists, que reconhece a Costa Rica como um campeão no combate ao desmatamento.

Mudanças no mercado internacional também ajudaram a reverter as taxas de desmatamento, segundo o estudo.

O colapso das exportações de carne bovina na década de 80, por exemplo, impulsionou a criação e expansão de áreas protegidas em larga escala no nordeste do país, uma região dominada pela criação de gado desde os tempos coloniais.

Em paralelo, o país descobriu seu potencial para o ecoturismo, um setor fundamental para a economia costa-riquenha.

Todos os anos, milhões de turistas visitam o país, atraídos pelos encantos naturais e diversos como suas cordilheiras, vulcões, reservas ambientais, praias e resorts no Pacífico e no Caribe.

Pensa que a Costa Rica se dá por satisfeita? Nada disso.

No ano passado, surpreendeu o mundo ao anunciar que fecharia seus dois zoológicos estatais para transformá-los em jardins botânicos.

Sua meta mais ambiciosa é tornar-se um país neutro em carbono, com pelo menos 100% das suas emissões que causam o aquecimento global equilibradas pelo sequestro de carbono até 2021.


Com os passes certeiros que vem dando, o gol é praticamente certo.

Fonte: Exame.com