sábado, 23 de maio de 2020

APRESENTAÇÃO

O Centro de Estudos e Conservação da Natureza – CECNA – é uma das organizações não governamentais ambientalistas mais antigas do país, fundada em 20 de janeiro de 1970 em Nova Friburgo - RJ, pelo historiador natural e professor de biologia Rosalvo de Magalhães, o qual foi também co-fundador da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza – FBCN, a primeira ONG voltada para a temática ambiental no Brasil.

Prof. Rosalvo em 1957 e 2000.

Desde a sua fundação o CECNA atuou nas mais variadas questões em se tratando de impactos e conflitos ambientais do município de Nova Friburgo e região, através de manifestações públicas e denúncias aos órgãos públicos. Além disso, várias atividades de educação ambiental em parceria com escolas públicas e particulares foram realizadas.

O CECNA também sempre teve participação ativa nos fóruns de discussão ambientais locais e regionais, como conselhos consultivos de unidades de conservação, Conselho Municipal de Meio Ambiente, comitês de bacia hidrográfica e no processos de criação da Agenda 21 Local e Agenda 21 Comperj.

Em relação às unidades de conservação, participou do processo de criação de algumas das mais importantes do estado do RJ, como o Parque Estadual do Desengano, a Reserva Biológica Federal de Poço das Antas e a Área de Proteção Ambiental Estadual de Macaé de Cima.

A instituição também submeteu projetos a editais que resultaram em importantes serviços prestados à sociedade fluminense, como o Cadastro de Usuários de Água e o apoio à criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN’s), e desenvolveu projetos de pesquisa próprios, como o Diagnóstico de Campo Turístico Ambiental de Nova Friburgo.

Um dos grandes destaques da história do CECNA e da biografia do professor Rosalvo foi a participação no Fórum Global, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), mais conhecida como Eco 92, realizada na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1992. A Eco 92 foi um marco na história da humanidade por ter reunido praticamente todos os chefes de estado no mundo para tratar da questão ambiental a nível mundial.

Toda essa importante atuação do CECNA no movimento ambientalista está amplamente documentada. Entre os anos de 2008 e 2011, a diretoria do CECNA organizou seu acervo histórico de mais de 1800 documentos e os dividiu em 18 volumes. E desde 24 de maio de 2017, o acervo encontra-se sob a guarda da Fundação D. João VI, e disponibilizado para consulta da população pelo link: https://promemoriadigital.djoaovi.com/acervodigital/fundocecna

Mais do que um arquivo de uma tradicional instituição, esses volumes documentam a luta do professor Rosalvo de Magalhães, um visionário que dedicou sua vida à proteção da natureza, tendo permanecido neste plano até o ano de 2005. Tão ou mais importante ainda que isso, esses volumes são uma página da história de Nova Friburgo: a do início de seu movimento ambientalista.



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O Centro de Estudos e Conservação da Natureza é uma entidade sem fins lucrativos, de caráter filantrópico, cultural e científico, fundada em 20 de Janeiro de 1970

Registrada no Cartório do 3º Ofício de Nova Friburgo, RJ, sob o Nº 304, Livro A, em 30 de julho de 1970

Reconhecida de utilidade pública municipal pela Deliberação Nº 976 de 31 de dezembro de 1970

CNPJ: 30346035/0001-48

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Desmate de fragmento da Mata Atlântica eleva temperatura local


Estudo feito por pesquisadores das universidades de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp) revela que, se um fragmento de Mata Atlântica de aproximadamente um hectare tiver 25% de sua área desmatada, a temperatura local aumenta 1º C. Se todo o pequeno remanescente for desflorestado, portanto, o impacto na temperatura máxima local pode chegar a 4º C. Os dados foram divulgados na revista PLOS ONE.


Se um remanescente florestal de um hectare tiver 25% de sua área devastada, o impacto no clima local será de 1° C.

“Conseguimos detectar efeitos climáticos de aquecimento causado pelo desmatamento de florestas nessa escala de fragmentos da Mata Atlântica, muito comuns no Sudeste do país”, disse à Agência FAPESP Humberto Ribeiro da Rocha, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP e coordenador do trabalho.

A investigação foi conduzida no âmbito de dois projetos: um vinculado ao Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e outro ligado ao Programa BIOTA-FAPESP.

De acordo com Rocha, já havia evidências científicas de que o desmatamento de florestas tropicais promove o aquecimento do ar em escala local, mas baseadas em medidas de grandes áreas desmatadas, obtidas principalmente de estudos feitos na Amazônia.

“Não havia uma informação detalhada sobre o efeito do desmatamento em pequenos fragmentos, nem estudos que levassem em conta diferentes níveis de antropização [mudanças por ação humana]”, disse Rocha, membro da coordenação do PFPMCG.

A fim de suprir essa lacuna, os pesquisadores analisaram a relação entre o grau de desmatamento e o aquecimento da temperatura local em remanescentes da Mata Atlântica situados na Serra do Mar, no litoral norte de São Paulo, por meio de estimativas da temperatura da superfície terrestre (LST, na sigla em inglês).

Essas estimativas da temperatura superficial são feitas a partir de dados de emissão de fluxos de calor (térmicos) em todo o globo, registrados continuamente por sensores ópticos no infravermelho, como os acoplados aos satélites do Programa Landsat, da agência espacial americana, a Nasa.

Com base nesses dados, foi calculada uma média anual de temperatura superficial de dezenas de milhares de amostras de áreas da Mata Atlântica com aproximadamente um hectare e com cobertura florestal variável do nível total até o desmatamento integral. Os fragmentos florestais também apresentavam diferentes graus de antropização, com variação de 1%.

Os cálculos, feitos durante o doutorado da pesquisadora Raianny Leite do Nascimento Wanderley, sob orientação de Rocha, indicaram que as áreas com menor cobertura florestal apresentam temperaturas mais altas. Cada aumento de 25% na retirada da cobertura vegetal nativa resultou no aquecimento de 1º C na temperatura local, chegando a 4º C no caso de desmatamento total.

“Esse padrão detectado é interpretado como uma caracterização de impacto da perda de cobertura florestal no microclima do ambiente”, disse Rocha.

Impactos na floresta

Segundo os pesquisadores, os fragmentos de Mata Atlântica abrangidos pelo estudo, situados em maior altitude, têm proporcionalmente maior quantidade de carbono estocado no solo em comparação com áreas da Amazônia. Dessa forma, o desmatamento dessas áreas pode comprometer o balanço de carbono da floresta.

“A Mata Atlântica, que hoje está em equilíbrio ou talvez esteja marginalmente absorvendo carbono da atmosfera, pode passar a ser uma fonte emissora”, ponderou Carlos Joly, professor da Unicamp e um dos autores do estudo.

O aumento da temperatura nesses fragmentos de floresta afeta mais a respiração do que a fotossíntese das plantas. Esse efeito também contribui para a liberação de maiores quantidades de carbono da floresta para a atmosfera, afirmou Joly, que é membro da coordenação do BIOTA-FAPESP.

“A combinação desses dois processos cria uma sinergia maléfica para aumentar as emissões de carbono da floresta para a atmosfera”, acrescentou.

De acordo com Joly, ainda não se sabe se os efeitos do aumento da temperatura nos fragmentos de Mata Atlântica em razão do desmatamento são iguais em todas as espécies de árvores.

Normalmente, são as espécies pioneiras – que sobrevivem em condições desfavoráveis devido à alta capacidade reprodutiva – que apresentam maior capacidade de resistir a mudanças de temperatura, explicou o pesquisador.

“Ainda não temos condições de prever em quanto tempo, mas no longo prazo certamente o aumento da temperatura em fragmentos de Mata Atlântica causado pelo desmatamento pode influenciar, de forma diferenciada, a sobrevivência de espécies de árvores na floresta”, disse.

“Pode ser que ocorra uma diminuição de espécies típicas de uma floresta madura e aumente a proporção de espécies de maior plasticidade, que, em geral, são as pioneiras ou secundárias iniciais.”

Funções comprometidas

Considerada uma das florestas mais ricas e ameaçadas do planeta, a Mata Atlântica ocupa hoje 15% do território brasileiro, em região que abrange 72% da população do país. Dados recentes do Atlas da Mata Atlântica indicam que foram perdidos 113 quilômetros quadrados (km2) do bioma entre 2017 e 2018. O monitoramento é feito de forma contínua pela Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Além dos impactos na biodiversidade, o desmatamento, ainda que em escala pequena, compromete importantes serviços ecossistêmicos prestados pela Mata Atlântica, entre eles a regulação térmica, ressaltam os autores.

“A floresta é importantíssima para manter as temperaturas mais amenas em escalas local e regional. A mudança em seu funcionamento pode comprometer essa função”, disse Joly.

O abastecimento de água também pode ser impactado. A Mata Atlântica abriga sete das nove maiores bacias hidrográficas do país, que são as cabeceiras de rios que abastecem reservatórios responsáveis por quase 60% da produção da energia hidrelétrica e fornecem água para 130 milhões de habitantes do país.

“A Mata Atlântica não produz água, mas protege as nascentes e permite o armazenamento nos reservatórios para consumo, geração de energia, irrigação agrícola e pesca, entre outras atividades”, apontou Joly.

Por estar situada em áreas extremamente íngremes, como as encostas, a floresta ajuda a evitar deslizamentos de terra, muito comuns em períodos de chuvas intensas.

“A remoção ou a mudança no funcionamento desses fragmentos de floresta pode diminuir muito essa proteção”, afirmou Joly.

Segundo o pesquisador, o Estado é o maior indutor do desmatamento na Mata Atlântica, hoje reduzida a 12,4% da área original, em razão da construção de obras de infraestrutura, como rodovias e gasodutos. O bioma também tem sofrido com a expansão urbana, que envolve a construção de favelas e de condomínios de alto padrão.

Por ser um dos biomas mais ameaçados na América do Sul, a Mata Atlântica tem sido foco nos últimos anos de um grande número de estudos voltados à restauração, feitos, em grande parte, por pesquisadores vinculados ao programa BIOTA-FAPESP, ressaltou Joly.

A maior iniciativa de restauração do bioma é coordenada pelo Pacto da Mata Atlântica – movimento surgido na sociedade civil voltado a restaurar e conservar a floresta.

“Existe hoje expressivo conhecimento acumulado sobre restauração da Mata Atlântica. É lógico que não será possível recuperar tudo o que foi perdido, mas ao menos parte das funções da floresta podemos restaurar”, avaliou Joly.

O artigo Relationship between land surface temperature and fraction of anthropized area in the Atlantic forest region, Brazil (DOI: 10.1371/journal.pone.0225443), de Raianny L. N. Wanderley, Leonardo M. Domingues, Carlos A. Joly e Humberto R. da Rocha, pode ser lido na revista PLoS One em https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0225443.

Informações de Elton Alisson | Agência FAPESP

Fonte: SOS Mata Atlântica