Rio de Janeiro — Em uma clareira
rodeada de árvores frondosas, Djair dos Santos, 66 anos, morador do Morro da
Formiga (Tijuca, Zona Norte do Rio), capina uma nova área a ser reflorestada
com vegetação nativa na parte alta da comunidade, onde, no passado, ocorreram
deslizamentos mortais.
A Cidade Maravilhosa tem a maior floresta urbana do mundo,
com mais de 35 mil hectares de Mata Atlântica que cobrem 29% de seu território.
Mas devido ao desmatamento provocado pela expansão urbana, a cidade perdeu
cobertura vegetal, expondo seus moradores a poluição, enchentes e deslizamentos
que vitimizam, sobretudo, os mais pobres que vivem nas favelas.
Segundo a Prefeitura, a cidade do Rio tem umas 18 mil
moradias em áreas de alto risco em 117 comunidades. Em 2011, mais de 900
pessoas morreram em deslizamentos na Serra Fluminense, a cerca de 100 km da
capital, na maior tragédia ambiental do país.
== Uma nova realidade ==
Djair guarda na memória a tragédia de fevereiro de 1988, que
matou seis pessoas no Morro da Formiga. Mas diz que agora a realidade mudou,
enquanto acompanha outros 10 moradores do morro que participam do Mutirão de
Reflorestamento.
"É gratificante para mim e todos os moradores ver que
nos anos 1980 aconteceu um desastre nas chuvas, que um pedregulho rolou e matou
pessoas (e isso não se repetiu). Isso acontecia muito. Com o reflorestamento,
nunca mais", relata Djair, há 14 anos encarregado do Mutirão que recuperou
80 hectares no Morro da Formiga.
Em 26 anos, o programa da Prefeitura reflorestou mais de
2.200 hectares em cerca de 140 pontos da cidade, a maioria em comunidades
carentes, com o plantio de 6 milhões de mudas de 150 a 200 espécies nativas da
Mata Atlântica, como ipê, anjico e pau-brasil, com a colaboração de 800
moradores.
Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC), o reflorestamento
ajuda a estabilizar encostas. A floresta aumenta a infiltração da água da chuva
no solo. Sem a vegetação, a chuva arrasta os sedimentos da superfície para a
parte baixa da cidade, assoreando canais de drenagem e causando enchentes e
deslizamentos.
"O projeto no Morro da Formiga é um dos mais antigos da
Prefeitura, começou em 1997. Como a comunidade está em área de risco devido à
declividade alta, no passado houve muitos deslizamentos, mas posteriormente
reduziram-se significativamente essas ocorrências", explica Marcelo
Hudson, gerente de conservação da SMAC.
== Novas frentes ==
Desde 2010, a Prefeitura trabalha em uma nova fase do
programa, chamada Rio Capital Verde, que prevê levar o Mutirão para novas
frentes e recuperar outras áreas de difícil acesso com a contratação de
empresas especializadas.
A meta é reflorestar 1.300 hectares com o plantio de 4
milhões de sementes até 2016. Espera-se que o replantio ajude a cidade a
reduzir suas emissões e renda créditos de carbono para financiar projetos
similares.
"O projeto carbono atende áreas reflorestadas por
empresas, pois são de difícil acesso. Para isso (as autoridades municipais) vão
usar créditos de carbono para custear o replantio onde não puderem fazê-lo com
o Mutirão", explica Franka Braun, especialista da Unidade de Financiamento
de Carbono do Banco Mundial, que trabalha com a prefeitura no Programa de
Desenvolvimento de Baixo Carbono da cidade.
"Já temos o documento técnico do projeto de créditos e
no próximo mês faremos a validação, que consiste em estabelecer uma amostra de
parcelas (do terreno), onde serão feitas medições (nr: de absorção de CO2 por
hectare). A área que vai render créditos tem uns 900 hectares" espalhados
pela cidade, explica Braun.
"Estimamos que nessa área 50 mil toneladas de carbono
tenham sido capturadas nos últimos três anos", continua Braun.
Além de ar limpo e encostas estáveis, o reflorestamento dá a
cariocas e turistas novas áreas de lazer.
"Aqui na Formiga abrimos uma trilha que vai até a
cachoeira. Já tem até turista que vem conhecer o local. Tem sábado que fica
cheio aqui. Semana passada, fizemos uma caminhada ecológica. Vieram umas 30
crianças da comunidade. Eu fui andando com elas e explicando a importância do
reflorestamento, que melhora a qualidade de vida de toda a cidade", conta
Djair.
Para ele, a floresta representa esperança. "Posso até
sair do Morro da Formiga, mas não por minha vontade. Quero continuar nisso aqui
até quando Deus quiser", afirma.
Por VITORIA VELEZ (AFP)
Direitos de autor © 2013 AFP. Todos os direitos reservados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário