As secas prolongadas que têm afetado diversos estados e
levado à iminência de racionamento na maior cidade do país, São Paulo, não se
resolverão só com a volta das chuvas. É preciso reflorestar as nascentes e
margens dos rios para garantir um suprimento de água confiável e perene. O
alerta não vem de setores ambientalistas, mas de um segmento durante muitos
anos associado à derrubada das matas: os agropecuaristas.
A segurança hídrica afeta não só as torneiras da população,
mas coloca em risco o próprio negócio dos fazendeiros, que precisam de água
abundante para irrigar suas plantações. A opinião foi externada na
segunda-feira (25) pelo diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA),
Alberto Figueiredo, em entrevista à Agência Brasil.
“O que acontece é que a escassez de água, neste momento,
está recrudescendo. Está acontecendo de fato e deixando milhares de pessoas na
sede. O fato se tornou grave e alarmante. O que nos preocupa é que não há
qualquer trabalho feito pelas autoridades no sentido de manter as fontes de
água, as nascentes, as florestas nas encostas, as reservas ciliares para
garantir os cursos d’água. Isso não acontece na intensidade que deveria, e pode
fazer com que crescentes contingentes de pessoas fiquem sem água”, alertou
Figueiredo.
A escassez de água e a diminuição dos cursos d’água acabam
por inibir novos projetos de irrigação e afetam as iniciativas existentes no
campo, segundo o diretor da SNA. “A gente sabe que as produções, tanto
agrícolas quanto pecuárias, sem irrigação, tornam o processo extremamente
difícil em termos de produtividade”, salientou.
Para ele, os governos deveriam incentivar, monetariamente,
os fazendeiros a replantarem as áreas de preservação permanente, principalmente
as encostas. As matas nesse tipo de terreno têm a função de reter e fazer
infiltrar as chuvas, evitando que grande volume de terra acabe assoreando os
córregos e rios.
Segundo Figueiredo, “o novo Código Florestal diminuiu as
exigências de reflorestamento em áreas declivosas, o que é grave, pois são
terrenos que não dão produtividade nem para a pecuária nem para a agricultura,
e se prestam efetivamente para as florestas. O que precisamos é fazer funcionar
um dos artigos do Código Florestal que permite remunerar os produtores que
fizerem conservação de recursos hídricos, pela manutenção das matas ciliares,
ao redor das nascentes e também nas encostas”.
Figueiredo acredita que as novas gerações de agropecuaristas
têm nova visão ecológica do processo produtivo. “A geração atual está
consciente disso. O que precisa é o governo fazer cumprir a legislação que
existe. Hoje não há, por exemplo, profissionais distribuídos pelo interior para
orientar os produtores em relação ao preenchimento do cadastro ambiental
rural”, ressaltou.
O dirigente da SNA também prega o aumento da produtividade
na criação de gado, colocando mais animais em espaço menor e abrindo área para
o reflorestamento. Pelas suas contas, “hoje temos 1,2 cabeça de boi por
hectare, em média, no Brasil. Já estamos conseguindo, em algumas propriedades,
15 cabeças por hectares. Podemos multiplicar por dez, no mínimo, a
produtividade, ou diminuir em 90% a área ocupada, mantendo a mesma produção.
Esta área que vai ser liberada, a partir da racionalização do uso do solo, vai
permitir que se recomponham as matas”.
Fonte: Ambiente Brasil
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