LIMA (Reuters) - A cúpula do clima de Paris em 2015 terá uma
missão mais difícil para obter um acordo da ONU para desacelerar as mudanças
climáticas, depois que as esperanças de que um acordo entre Estados Unidos e
China fosse uma chave mágica para destravar um impasse global se dissolveram
nas conversas preparatórias em Lima.
No melhor dos casos, Paris pode ser uma chance para reformar
um sistema de conversas anuais da ONU --mais de 11 mil delegados compareceram
às conversas de dois dias em Lima-- e descobrir maneiras de impulsionar ações
de longo prazo para conter as crescentes emissões de gases-estufa.
Mas o impulso político do acordo EUA-China deu lugar às
familiares divisões e “linhas vermelhas” que rotineiramente empacam as
conversas, especialmente sobre a questão da diferenciação das responsabilidades
dos países riscos e pobres.
“O anúncio EUA-China indicou uma mudança fundamental em
colocar países desenvolvidos e em desenvolvimento em um patamar mais igual. Não
é surpresa que, em Lima, um monte de países em desenvolvimento resistiram”,
disse Elliot Diringer, do Centro para Mudanças Climáticas e Soluções em
Energia.
A Organização das Nações Unidas diz que já está claro que as
promessas para reduções de emissões em uma cúpula de Paris, que acontecerá em
dezembro de 2015, serão muito fracas para avançar para a meta da ONU de limitar
o aquecimento global a 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.
“Teremos muito trabalho a fazer”, disse o ministro francês
do Exterior, Laurent Fabius, sobre o desafio de Paris.
Mesmo assim, 2015 ainda carrega uma esperança de reformas
para que o sistema da ONU tenha maior controle sobre políticas de emissões de
gases-estufa, que são culpados por ondas de calor, inundações, secas e aumento
dos níveis do mar.
Paris pode marcar uma mudança de rumo das duas décadas de
diplomacia climática em direção a um sistema mais tecnocrático, que permitiria
que compromissos nacionais para ações climáticas fossem comparados e
fortalecidos nos próximos anos.
Yvo de Boer, um ex-chefe da ONU para questões climáticas,
disse que um problema era que negociadores da ONU não tinham autoridade. “Se os
líderes do Grupo dos 20 se reunissem e dissessem ‘vamos fazer isso’, toda essa
conversa acabaria em 30 minutos”, disse ele à Reuters.
De Boer, que agora lidera o Instituto Global de Crescimento
Verde, que ajuda países em desenvolvimento, notou que as conversas climáticas
anuais cresceram muito desde que 1.000 delegados se reuniram pela primeira vez
em 1994.
“Paris pode ser uma oportunidade para mudar isso, se forem
identificados pontos que precisam ser completados. Isso pode ser transformado
em um processo técnico, e não político”, disse.
Até agora, no entanto, os sinais não são tão bons.
Os textos concordados em Lima vão obrigar governos a
fornecerem apenas alguns vagos planos para limitar emissões de gases-estufa,
após a China ter negado um esforço da União Europeia por relatos detalhados dos
planos.
Assim, o resultado das conversas de Lima, que atraíram desde
ministros de países da Opep até veganos vestidos como frangos, significa que um
acordo em Paris deve ser um mero remendo das ofertas nacionais para conter as
emissões.
Por Alister Doyle e Valerie Volcovici
Fonte: Reuters
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