A festa (da democracia) acabou: novos chefes do executivo
nacional e estadual escolhidos, além de deputados e senadores. E agora, José?
Maria? Nordestino? Sulista? Brasileiro? Qual rota o país tomará para garantir o
sucesso da fórmula que alia e harmoniza desenvolvimento econômico e conservação
da natureza, equação cada vez mais óbvia quando o que está em jogo é o futuro
das pessoas e das nações?
Não sabemos. Durante as eleições, pouco se falou sobre meio
ambiente além do óbvio: que é preciso protegê-lo. Temas mais profundos
relacionados à conservação de nosso patrimônio natural e indispensáveis para a
garantia da qualidade de vida da população receberam pouca ou nenhuma atenção
na pauta de discussões públicas.
Além de possíveis soluções e das implicações da severa crise
hídrica pela qual passa o país, também ficaram em segundo plano discussões
sobre o estabelecimento de uma política nacional de adaptação às mudanças
climáticas e até mesmo sobre como estimular a pesquisa científica para
preencher o imenso vazio de conhecimento a respeito de nossas áreas naturais
nativas e das espécies que nelas existem.
Outro tema importantíssimo não contemplado foi a proteção e
ampliação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Mesmo após mais de
uma década de criação e regulamentação, essa importante ferramenta ainda
precisa ser consolidada e efetivamente aplicada na prática para enfrentar a
evolução das ameaças à proteção da natureza no Brasil. Criado para consolidar o
papel e a gestão das unidades de conservação (UCs) no país, essa lei tem como
objetivo valorizar essas áreas protegidas, importantíssimas não apenas para a
proteção da biodiversidade, mas também indispensáveis para a vida e o bem-estar
dos brasileiros.
Elas fornecem serviços ambientais essenciais à vida, como o
fornecimento de água limpa, a purificação do ar, a regulação do microclima e o
sequestro de carbono. Também representam geração de renda para milhares de
brasileiros, pois importantes pontos turísticos naturais de grande beleza
cênica são protegidos em seus interiores, além de algumas UCs marinhas
funcionarem como berçários para o desenvolvimento de peixes que poderão ser
pescados fora de seus limites. Nem todos esses benefícios, porém, fizeram com
que as unidades de conservação recebem a atenção merecida durante o processo
eleitoral.
Diz o provérbio que não ser visto significa não ser
lembrado. Podemos ir além: não lembrar implica em não priorizar. Finalizados os
votos, baixadas as bandeiras partidárias, acalmada a mídia, fica agora uma
sensação de vazio nessa questão: será que nos tornamos indiferentes à questão
ambiental?
A mea culpa, nesse caso, cabe a quem? Aos eleitores que
desconhecem o impacto da proteção da natureza em suas vidas e não exigiram
propostas relacionadas ao assunto? À mídia que não levantou a pauta porque ela
não suscitava interesse em seus públicos? Aos candidatos que despriorizaram o
tema por acreditar que propostas relacionadas à conservação da natureza não se
convertem em votos? Parece improvável que a responsabilidade recaia sobre um
único grupo, mas é evidente e inquestionável que os resultados e impactos serão
sentidos por todos. E então?
Por Malu Nunes
Fonte: O Eco
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