O Brasil, com sua matriz energética considerada uma das mais
“limpas” do mundo, com 45% proveniente de fontes renováveis, e China, a maior
poluidora do planeta, estão trabalhando em conjunto para desenvolver pesquisas
que auxiliem no desenvolvimento de inteligência em novas energias com enfoque
comercial. “A China quer se tornar um grande produtor de energias renováveis, e
o mercado verde deverá ser um grande impulso para o reaquecimento da economia
mundial”, diz o diretor geral do Ministério de Ciência e Tecnologia Chinês,
Wang Qiang.
Pauta recorrente no cenário internacional, a China está
muito interessada em soluções mais limpas. Na metade do ano passado, Pequim
reiterou a intenção do seu Plano Quinquenal com aporte de 816 bilhões de yuans
(cerca de R$ 268 bilhões) em medidas contra a poluição do ar e da água, além de
outros 932 bilhões de yuans (aproximadamente R$ 306 bilhões) que serão
destinados a iniciativas para a construção civil e produção de automóveis que
usem menos recursos não renováveis.
O ministro da Indústria e Tecnologia da Informação, Miao
Wei, anunciou na semana passada subsídios para carros que rodem com energia
limpa, um audacioso plano que pretende alavancar as vendas de automóveis
“verdes” de 12.791 unidades em 2012 para 500 mil em 2015.
Brasil e China são grandes expoentes atuais nas pesquisas em
energia limpa. O Brasil com o desenvolvimento de pesquisas em energia eólica e
marítima, e os chineses com os painéis solares, um mercado que lideram
mundialmente com 60% da produção. A China tomou como prioridade em 2012 o
desenvolvimento tecnológico de bioenergia, energia solar e tratamento de
resíduos, um plano consoante ao Plano Quinquenal iniciado em 2010 que tem o
enfoque nas indústrias limpas.
Cooperação Brasil-China – A participação brasileira no
projeto chinês é encabeçada pelo Centro China-Brasil de Mudanças Climáticas e
Tecnologias Inovadoras em Energia (Coppe), criado em 2010 pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela chinesa Tsinghua. O modelo inspira-se
na criação de parcerias entre empresas e universidades desenvolvido na China,
num processo iniciado durante a abertura econômica, em 1979, e a privatização
de centenas de empresas.
A ideia é que o projeto sirva como um complemento, senão uma
alternativa, ao programa Ciência Sem Fronteiras, que até o final de fevereiro
tinha oferecido mais de 22,646 mil bolsas para pesquisadores brasileiros em 16
países – 22,4% da meta de 101 mil bolsas até 2015 – conforme anunciou o
presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Glaucius
Oliva.
“Temos enviado professores e pesquisadores da Coppe para
estadas curtas nas instituições chinesas. Queremos ampliar a cooperação e dar
apoio aos grupos brasileiros com interesse no país asiático”, diz Segen
Estefen, diretor de tecnologia e inovação do Coppe/UFRJ e um dos diretores do
centro conveniado em Pequim. O Coppe/UFRJ formou, no final de 2012, os dois
primeiros doutores chineses do Centro.
Coppe – O Coppe foi iniciado com o apoio da Finep, a Agência
Brasileira da Inovação, uma empresa pública vinculada ao MCTI, e foi ampliado
no caso das pesquisas em petróleo com o aporte da ANP (Agência Nacional do
Petróleo) e da empresa chinesa Sinochem, que atua no Brasil.
Conforme Estefen, a ideia do projeto é alinhar as pesquisas
brasileiras com as chinesas e aproximar a pesquisa nacional e demais setores da
economia brasileira “que possam se beneficiar da aproximação à inteligência
chinesa”.
“No setor do petróleo temos grande capacitação nas
tecnologias para águas profundas, enquanto nossos colegas chineses dominam
grande parte das tecnologias complexas de perfilagem de poços”, aponta o
engenheiro.
O novo boom chinês – Durante a visita oficial da presidente
Dilma Rousseff a Pequim em 2011, diversos acordos de entendimento foram
assinados entre os dois países para o desenvolvimento de centros de pesquisa
binacionais e de transferência tecnológica. “Nosso ministério está engajado em
concretizar esses acordos entre os dois países”, garantiu Wang durante encontro
ocorrido em Pequim na universidade Tsinghua no início de março, que contou com
a presença da diretoria do Coppe do Brasil e da China, além de representantes
do governo brasileiro e do BNDES.
Durante a visita ao Brasil no ano passado do ministro de
Ciência e Tecnologia da China, Wang Gang, foi reiterada a intenção de organizar
um seminário com o Brasil sobre parques tecnológicos ainda no primeiro semestre
de 2013, além de uma segunda rodada do Diálogo de Alto Nível em Ciência e
Tecnologia em setembro. A primeira edição do diálogo ocorreu em Pequim em abril
de 2011, durante visita da presidente Dilma.
Parte do plano mandarim é transformar o país do “made in
China” (feito na China) no do “developed in China” (desenvolvido na China), e
vender essa nova faceta para o mundo da mesma forma que vendeu a fábrica barata
de produtos de qualidade baixa. E o Coppe deverá liderar os projetos iniciados
entre os dois países para a comercialização de novas tecnologias e a
aproximação das universidades brasileiras à realidade norte-americana que
mantém cooperações bastante próximas entre universidades e empresas.
Este é o primeiro estágio da cooperação entre a UFRJ e a
Tsinghua. “Estamos identificando empresas e tecnologias dos dois países que
podem ter sinergias para o estabelecimento de negócios conjuntos na área
tecnológica. Tivemos na delegação brasileira um representante do BNDES, que
está atento e interessado em apoiar iniciativas oriundas desta cooperação e que
possam atingir os dois mercados”.
No Brasil, o envolvimento de empresas em pesquisas
científicas fica em 42,7%, abaixo dos 70% realizados em países considerados
inovadores.
Enquanto a preocupação no lado brasileiro reside na
transferência de tecnologia para o País, a China procura um entendimento com a
área comercial e a propriedade intelectual. Para Wang, os pesquisadores
necessitam, além de um incentivo governamental para suas pesquisas, um enfoque
empresarial para seus projetos. “É preciso pesquisar novos modelos comerciais,
além dos tecnológicos. Falar da transferência tecnológica por si não é o
caminho, e sim uma discussão em torno da pesquisa de novos modelos de
comercialização tecnológica”.
Em um novo acordo entre o Ministério das Finanças e o de
Ciência e Tecnologia chineses, anunciado em janeiro deste ano, debateu-se a
criação de políticas de apoio para o setor de pesquisa e desenvolvimento no
país. Bancos em Pequim e nas províncias de Jiangsu e Guangdong também estão
trabalhando em apoios especiais para empresas de pequeno porte que necessitem
de apoio fiscal e financeiro para desenvolvimento de tecnologia em indústrias
emergentes.
Fonte: Ambiente Brasil
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