terça-feira, 21 de outubro de 2008

3ª visita técnica do projeto Diagnóstico de Campo Turístico-Ambiental de Nova Friburgo - Lumiar - Encontro dos Rios

No dia 4 de outubro de 2008, sábado, foi realizada a 3ª visita técnica do Projeto Diagnóstico de Campo Turístico-Ambiental de Nova Friburgo, parceria do CECNA com a Equipe de Turismo Receptivo de Nova Friburgo - ETR e a Uiversidade Livre da Floresta Atlântica - UNIFLORA. A previsão inicial era percorrer o trajeto Rio Bonito de Baixo – Rio Bonito de Cima, conectando esse trajeto com o realizado na visita anterior, o qual teve término em Rio Bonito de Cima. No entanto, por problemas de ordem logística, houve uma antecipação de um trajeto que seria percorrido mais a frente, entre Lumiar e o Encontro dos Rios, próximo à localidade de Santa Luzia, todos inseridos no 5º distrito de Nova Friburgo, o de Lumiar.

O percurso teve início às 9h e término às 13h De manhã o tempo teve céu nublado, com diminuição das nuvens e aumento do calor a tarde. A temperatura variou entre 22° C a 30° C. Não houve precipitação em nenhum momento.
 
Trajeto percorrido.

Detalhes do trajeto (clique na imagem para ampliar).
 
Esse caminho percorre a Estrada RJ-142, mais conhecida como Estrada Serramar. A curta história de vida dessa estrada é uma grande polêmica, desde seu início. Até a década de 1960 não havia uma estrada que ligasse diretamente duas regiões fluminenses próximas e muito dinâmicas turisticamente: a Região Serrana e a Região das Baixadas Litorâneas, mais conhecida como Região dos Lagos. O caminho mais curto era, para os serranos, descer a serra até o trevo de Venda das Pedras, no município de Itaboraí e de lá ir pela BR-101 em direção a Cabo Frio, Búzios, entre outros e, mais adiante, Rio das Ostras, hoje pertencente a Região Norte. Com a Serramar, esse trajeto diminuiu em aproximadamente 80 Km. A Serramar começa na localidade de Mury, em Nova Friburgo, passa por Lumiar, no mesmo município e depois vai até o município de Casimiro de Abreu, do qual Rio das Ostras já fez parte como distrito. Rio das Ostras também sempre foi muito procurado pelos friburguenses como destino praiano.

Até a década de 1970, só existia o trecho que liga Mury a Lumiar. Nessa época, o então prefeito de Nova Friburgo e engenheiro Heródoto Bento de Mello, eleito novamente prefeito este ano, resolveu projetar o trecho Lumiar - Stocklin, em Casimiro de Abreu. Apesar dos protestos do embrionário movimento ambientalista da época, a idéia conseguiu ser vendida como solução para dinamizar o turismo e a economia das duas regiões envolvidas. Mesmo assim, o processo de implantação da estrada se arrastou por décadas, numa guerra de liminares entre o poder público e empresários favoráveis ao asfaltamento total da estrada e os ambientalistas e muitos moradores contrários a isso. O asfaltamento finalmente foi concluído em 2006, amplamente divulgado pelo governo de Rosinha Garotinho.

O leito da Serramar está todo inserido na bacia hidrográfica do rio Macaé, uma das regiões mais preservadas do estado do Rio de Janeiro. Isso se deve principalmente ao fato da região ter um relevo bastante acidentado, o que dificulta o processo de ocupação do solo. Apesar da crescente degradação atual, sobretudo para implementação de pastagens e especulação imobiliária, incentivadas pela Serramar recém asfaltada, ainda existem grandes contínuos e fragmentos de Mata Atlântica em avançados estágios de regeneração com altos índices de biodiversidade, somados ao farto volume hídrico do rio Macaé e afluentes.

Os principais grandes impactos proporcionados pela abertura dessa estrada foram a destruição causada na cobertura florestal, a alteração da topografia local para abrigar o seu leito, causando uma intensa instabilidade das encostas ao longo do trajeto, o crescimento desordenado do setor imobiliário na região e, consequentemente, o incentivo ao crescimento demográfico, e o aumento da poluição atmosférica, visual e sonora nas localidades ao longo do seu percurso. A movimentação de terra necessária para abrigar o leito também causou um significativo assoreamento em muitos pontos do rio Macaé, prejudicando a sua vazão natural. E por fim, o prejuízo ao equilíbrio dos ecossistemas locais, impossível de ser mensurado.

Durante a visita técnica, a qual percorreu somente um trecho da Serramar, algumas características acima descritas puderam ser verificadas. E, apesar de todos os impactos negativos causados, a região continua sendo belíssima e extremamente favorável às explorações turística e cientifica ambientalmente sustentáveis.

No início da estrada, logo após sair do centro de Lumiar, podemos ter uma visão geral de uma área em rápida expansão urbana. Em Lumiar há uma característica interessante de proximidade entre o núcleo urbano e algumas áreas de uso rural, como pastagens e cultivos, especialmente de banana e inhame. Verificam-se também muitas casas em construção, prova de que a localidade tende a crescer muito mais e por isso exige uma atenção muito maior do poder público em evitar maiores impactos ambientais e sociais negativos. Percebe-se claramente algumas áreas com florestas em regeneração próximas à área urbana sendo novamente destruídas através de utilização de fogo e muitos pontos bastante íngremes tendo o solo realocado para abrigar as novas construções. No entanto as áreas de florestas nos topos dos morros ainda resistem, devendo ter proteção adequada para continuarem seu processo de regeneração.
 
Praça de Lumiar.
 
Crescimento acelerado do núcleo urbano de Lumiar e morros degradados ao fundo, porém ainda com florestas nos topos.
 
Essa característica de preservação nos topos dos morros é verificada ao longo de todo o percurso. Mas a medida que se afasta do núcleo urbano de Lumiar o uso do solo na base dos morros se resume às pastagens, quase sempre vazias e, quando não, com pouquíssimas cabeças de gado, sendo extremamente desproporcional o tamanho da área desflorestada em relação à sua utilização efetiva, o que leva a concluir que haja um motivo adicional à prática da queimada para limpeza do solo, que é o de manter visível alguma atividade para garantir a posse da terra, evitando qualquer tipo de invasão. Ou então, essa situação pode simplesmente comprovar o desconhecimento por parte dos proprietários de terra e meeiros sobre práticas ambientalmente sustentáveis de uso da terra e de agregação de valor a terra através do incentivo ao crescimento e aproveitamento de sua biodiversidade com a adoção de técnicas agroflorestais.
 
Paisagem predominante durante o percurso: floresta nos topos, pastos nas bases.
 
Outro ponto que gera muita polêmica em relação à atual Serramar é o aumento da quantidade de acidentes de trânsito após o asfaltamento. A simples visualização das curvas existentes na estrada nos dá as respostas para essa situação. Alguns veículos de grande porte como ônibus e caminhões trafegam pela estrada aumentando a probabilidade de acidentes. Uma simples caminhada pela estrada não deixa dúvidas quanto à necessidade urgente de proibição do tráfego desses veículos de grande porte além de uma sinalização eficiente para o tráfego de motocicletas.
 
Amostra da sinuosidade da estrada.
 
O asfaltamento da Serramar tornou o caminho entre Nova Friburgo e o litoral mais curto e isso certamente incentivou o turismo entre esses dois pontos, porém o turismo NA área da estrada parece não ter sido tão beneficiado assim, pois pôde-se perceber pelo menos dois pontos poucos movimentados para um sábado de sol e calor. O primeiro foi no Poço Verde, na altura do Km 3,6 do percurso. O local pertence ao proprietário de uma pousada logo em frente, do outro lado da estrada, e encontrava-se fechado. O outro foi no final do percurso, no local mais visitado e conhecido turisticamente da Serramar, o Encontro dos Rios Macaé e Bonito, no qual havia pouquíssimas pessoas. Era um atrativo natural em crescente visitação até o início do século, quando provavelmente o asfalto contribuiu para a diminuição da visitação, o que contraria todas as expectativas em relação à intensificação da visitação prevista pela facilitação do acesso. Evidentemente esse assunto necessita ser estudado mais profundamente para se chegar a conclusões mais precisas.
 
Entrada do Poço Verde.

Encontro dos Rios.
 
Outros atrativos naturais presentes no percurso que merecem destaque são a Pedra Riscada, com 1.348 m de altitude, visível durante boa parte do caminho, e algumas cachoeiras formadas pelo rio Macaé. Do ponto de vista geográfico há também uma interessante ilha fluvial logo após o conhecido Restaurante Barravento.
 
Ilha fluvial.

Nascente no Km 2,2 do percurso.

Cachoeira da barragem, Km 3,8 do percurso.

Pedra Riscada, com 1.348 m de altitude.

Rio Macaé.

Uma interessante formação rochosa no leito do Rio Macaé.

Poço da barragem.

Trecho do Rio Macaé logo após o encontro dos Rios.

Ponte dos Alemães.

Rio Bonito, pouco antes de desaguar no Rio Macaé.
 
Devido a essas características é necessária com urgência a tomada de providências para se implementar o conceito de Estrada-Parque na Serramar. A instalação de pórticos, sinalização adequada, fiscalização, projetos e atividades de recuperação e conservação ambiental, incentivo ao turismo, entre outros, farão com que o potencial da Serramar de gerar desenvolvimento econômico aliado à proteção do meio ambiente seja materializado e revertido para a qualidade de vida dos moradores da região.