sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ceticismo climático não “pega” no Brasil

22 / 04 / 2010

O ceticismo climático, como é conhecida a corrente de pensamento que nega a existência do aquecimento global ou, pelo menos, o papel do homem nesse fenômeno, não "pegou" no Brasil, indica nova pesquisa Datafolha. Mais de 90% dos brasileiros aceitam que o aquecimento é real e, para 75% dos entrevistados, as atividades humanas contribuem "muito" para as mudanças climáticas.

Os dados, obtidos após entrevistas com 2.600 pessoas em 144 municípios de todas as regiões do país, contrastam com os ataques sofridos pela ciência da mudança climática desde o fim do ano passado -ataques que, em países como os EUA e o Reino Unido, fortaleceram o ceticismo sobre o aquecimento global entre a população.

Os céticos ou negacionistas climáticos, como também são conhecidos, nunca tiveram tanto espaço nos meios de comunicação mundo afora quanto nos últimos meses. A ofensiva desses grupos começou com o chamado "Climagate", como ficou conhecido o vazamento de e-mails dos servidores da Universidade de East Anglia (Reino Unido). As mensagens documentavam anos de correspondência entre alguns dos principais climatologistas do mundo, e os negacionistas viram nelas indícios de que esses pesquisadores teriam tentado manipular dados, ocultá-los de seus opositores ou impedir que eles publicassem visões "alternativas" do tema em revistas científicas respeitadas.

Gelo – Nenhuma dessas acusações mostrou ter substância, mas a credibilidade da ciência do clima sofreu novos golpes quando, por exemplo, veio a público que os dados apresentados pelo IPCC (o painel climático das Nações Unidas) sobre o fim das geleiras do Himalaia em 2035 não eram resultado de análises científicas, mas tinham vindo originalmente de uma reportagem. As escorregadas levaram à criação de um painel independente para revisar os "padrões de qualidade" do IPCC.

Nada disso parece ter abalado a confiança do público brasileiro. Só 5% dos ouvidos pelo Datafolha acham que a humanidade não tem nada a ver com o aquecimento global, enquanto cerca de metade dos americanos têm essa opinião. Quanto maior a escolaridade, maior a aceitação do aquecimento global causado pelo homem: 96% entre os que têm ensino superior, contra 87% dos que só cursaram o ensino fundamental.

"Os números são impressionantes mesmo quando comparados com os dos EUA e do Reino Unido, ainda mais depois das controvérsias recentes envolvendo o IPCC", diz Myanna Lahsen, especialista em estudos ambientais e políticas públicas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Para Lahsen, a análise do que os meios de comunicação publicam sobre o tema no Brasil indica "grande uniformidade" em favor das causas humanas do aquecimento, o que explica, em parte, a posição da sociedade. "Eu até diria que é saudável ter debates, mas nos EUA [grande centro do ceticismo climático] isso é muito problemático, na medida em que a discussão é criada por elites e interesses financeiros, os quais usam métodos muito manipuladores", afirma ela.

Outro fator importante no país, diz Lahsen, é a importância econômica relativamente pequena das indústrias baseadas em combustíveis fósseis no Brasil. São elas as que mais têm a perder com os cortes de gases do aquecimento global, como ocorre no caso americano.

Fonte: Reinaldo José Lopes/ Folha Online – Ambiente Brasil

quarta-feira, 21 de abril de 2010

"Ou morre o capitalismo, ou morre a Terra”, diz Morales ao abrir Cúpula do Clima

21 / 04 / 2010

Obs: veja nota do CECNA no fim da postagem

O presidente boliviano, Evo Morales, um esquerdista de origem aimara, abriu, esta terça-feira, na Bolívia, uma conferência mundial de 20 mil ativistas para discutir propostas contra o aquecimento global e difundir uma mensagem clara: "ou morre o capitalismo, ou morre a Terra".

"O capitalismo é sinônimo de inanição, o capitalismo é sinônimo de desigualdade, é sinônimo de destruição da mãe Terra. Ou morre o capitalismo, ou morre a Terra", afirmou o presidente, na inauguração do evento no povoado de Tiquipaya, vizinho a Cochabamba, região central da Bolívia.

Em um campo de futebol diante de milhares de pessoas, o presidente disse que só os movimentos sociais do mundo, unidos a povos indígenas e intelectuais, "podem derrotar esse poder político e econômico (capitalismo), em defesa da mãe Terra".

Durante três dias, Tiquipaya se tornará no centro de uma conferência mundial de aborígenes e movimentos sociais de 129 países, celebrada para debater uma proposta para enfrentar as mudanças climáticas, que será apresentada na próxima Conferência Climática da ONU, agendada para o fim deste ano, no México.

Morales assumiu, em dezembro passado, o compromisso de organizar uma reunião mundial da sociedade civil, após criticar, junto a colegas de Venezuela, Nicarágua e Cuba, as conclusões da Conferência do Clima de Copenhague que, segundo ele, não obteve o consenso mínimo necessário para conter o aquecimento global.

A inauguração se realizou em meio a uma festa folclórica no estádio do povoado de Tiquipaya, que não bastou para abrigar todas as pessoas que ali foram para ouvir o presidente.

Bandeiras de Bolívia, Peru, Chile, Equador, México e do 'whipala' – xadrez multicolorido, símbolo dos indígenas andinos – dominavam o estádio de Tiquipaya. Um barulhento grupo de argentinos gritava vivas para o presidente Morales e entoava cânticos esquerdista dos anos 1970.

Indígenas bolivianos quechuas e aimaras, bem como de Chile, Peru, América Central, Estados Unidos e Europa estiveram presentes à inauguração.

Ativistas antiglobalização de África, Oceania e países sul-americanos também integravam a multidão de movimentos sociais que exigiam das potências industrializadas que freassem o aumento da temperatura do planeta, com o slogan "mudem de modelo, não mudem o clima".

"Há uma profecia, uma voz do norte, uma mensagem que diz à humanidade que temos que parar para não tirar a vida da Pachamama (mãe Terra em idioma quechua)", declarou em inglês, com ajuda de um intérprete, Faith Gammill, que disse representar os indígenas do Alasca e do Canadá.

Alicia Bárcena, representante do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, viveu um momento difícil ao ser vaiada no estádio.

Secretária-geral da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), Bárcena ameaçou retirar-se caso as vaias continuassem.

"Viemos escutar os povos com todo o respeito; vocês nos convidaram, mas se não querem que estejamos aqui, nós podemos nos retirar", disse, embora em seguida tenha conseguido dar seu discurso.

Um total de 17 mesas de trabalho foram instaladas na Bolívia para debater temas principalmente referentes à formação de um tribunal de justiça climática – para punir as nações poluidoras -, a convocação de um referendo mundial – para frear acordos das potências sobre o clima – e a criação de um organismo paralelo à ONU para reforçar políticas ambientalistas.

O encontro se encerrará esta quinta-feira com a presença dos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Daniel Ortega (Nicarágua), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai).

Morales impulsionou a celebração do encontro, após chamar de fiasco a Cúpula de Copenhague, no ano passado, e para gerar uma proposta alternativa para a próxima Cúpula Climática da ONU, no México.

Fonte: www.ambientebrasil.com.br

Opinião CECNA: é evidente que o capitalismo como modelo econômico de desenvolvimento globalmente predominante é o grande instrumento pelo qual a sociedade humana (composta, por sinal, por pessoas com atitudes individuais) interage desequilibradamente com o ambiente no qual vive. No entanto, opções alternativas válidas a esse status quo não consistem em soluções antiquadas e que comprovadamente se mostraram tão devastadoras como, por exemplo, o socialismo. Tampouco governos pseudo-rebeldes e ávidos pela perpetuação no poder dão exemplos de sustentabilidade para o mundo. Mas, eventos como esse são importantes para se abrir os olhos da grande maioria para a necessidade de mudanças no cerne no sistema vigente para atingir o verdadeiro equilíbrio planetário na relação homem-natureza.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Brasil não tem destino adequado para 67 mil toneladas diárias de lixo

O Brasil não tem destino adequado para 67 mil toneladas diárias de lixo que são despejados em depósitos e lugares irregulares. "É um volume muito grande". A isso se somam cerca de 20 mil toneladas/dia de resíduos domiciliares que não são sequer coletadas, afirmou na quinta-feira (15) o diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Silva Filho.

O lixo é considerado o principal causador de inundações e doenças nos centros urbanos, como se viu nas recentes enchentes ocorridas no Rio de Janeiro. "E não sendo coletadas, elas são também dispostas inadequadamente e acabam jogadas em terrenos baldios, rios e córregos d'água", disse Carlos Silva.

Para a Abrelpe, deve haver um planejamento municipal que tenha uma gestão integrada de resíduos sólidos, redução da geração de lixo, coleta seletiva e reciclagem. "E, principalmente, cuidando da destinação desses resíduos", reforçou Silva Filho.

Com base em dados da Abrelpe de 2008, o mercado de limpeza urbana no Brasil movimentou naquele ano R$ 16,5 bilhões. "São gastos no Brasil pouco mais de R$ 8,00 por habitante por mês para dar conta de todo o serviço de limpeza urbana, que inclui coleta de lixo diária, transporte, destino final, varrição, limpeza de ruas, capina, limpeza de córregos. Com isso, nós continuamos com o déficit de 67 mil toneladas/dia de lixo com destinação inadequada".

Segundo Silva Filho, para melhorar a destinação dos resíduos urbanos é necessário um investimento maior. A Abrelpe defende que o modelo adequado para fazer essa transição seriam as parcerias público-privadas (PPP). Nesse modelo, o investimento inicial é feito pelo setor privado, desonerando os cofres públicos. "E o Poder Público faria um financiamento desse investimento de longo prazo, de forma que não haja um grande impacto nos cofres públicos de uma vez só".

Silva disse que o Brasil não desenvolve ações concretas para avançar no tratamento do lixo, e que ocorrem ações isoladas em São Paulo e Minas Gerais.

Fonte: www.ambientebrasil.com.br

sábado, 10 de abril de 2010

Indonésia transforma antigos rebeldes em guardas florestais

31 / 03 / 2010

Durante décadas, o vasto interior da selva que cobre a província indonésia de Aceh, ao norte do país, ofereceu refúgio para milhares de rebeldes soldados de infantaria que travavam uma guerra de independência.

Agora, ainda marginalizados e desempregados, apesar de quase cinco anos de paz, muitos antigos separatistas fugiram de volta para a floresta, desta vez para derrubá-la.

"Falei com um antigo capitão rebelde recentemente e lhe perguntei por que ele continuava a cortar ilegalmente as florestas de Aceh", disse Mohammad Nur Djuli, chefe do Corpo de Reintegração de Aceh, uma organização estabelecida pelo governo provincial em 2006 para ajudar ex-combatentes a se integrar à sociedade.

"Ele disse: 'Tudo bem, você alimenta meus 200 homens e eu jogo esta serra no rio'. O que eu poderia dizer diante disso?"

Um programa do governo, chamado de Aceh Verde, espera fornecer uma resposta.

Cinco anos depois que um terremoto e um tsunami destruíram grande parte da província de Aceh, matando 170 mil pessoas, o governo provincial começou a instituir uma estratégia de desenvolvimento econômico. Ela busca incorporar o desenvolvimento sustentável, integrar antigos combatentes à sociedade e criar empregos que atingem o objetivo do antigo movimento separatista: garantir que lucros advindos de recursos naturais beneficiem a população local.

O programa Aceh Verde, embora ainda esta em seu estágio inicial, já produziu alguns resultados.

Centenas de antigos rebeldes, que conhecem a selva de Ulu Masen como ninguém, estão sendo treinados e remodelados como guardas florestais pela Fauna and Flora International, um dos grupos ambientais internacionais mais antigos em Aceh. Os novos guardas percorrem a floresta, armados com bússolas e corda de escalada, em busca de madeireiros e caçadores ilegais.

Os guardas florestais são selecionados por suas comunidades locais e operam como um grupo independente complementando uma força policial de floresta existente, ainda que pequena – seus antigos adversários. Os antigos rebeldes são treinados durante dez dias pela Fauna and Flora International.

Em sua cerimônia de formatura, exaustos e sujos, eles ficam de pé num rio cercado por tochas flamejantes para receber seus diplomas, que vêm na forma de abraços. Como num ritual de batismo, eles são mergulhados um a um no rio por seu "treinador mestre" e recebem um uniforme limpo para começar suas novas vidas.

"Muitos choram", disse Matthew Linkie, gerente de programas da divisão de Aceh da Fauna and Flora International. "É impressionante ver isso entre esses homens endurecidos. Esses rapazes passam de marginais e criminosos a heróis. Eles estão se tornando nossos olhos e ouvidos, nos deixam saber o que está acontecendo em áreas bastante remotas da selva, lugares normalmente muito difíceis de monitorar".

O Aceh Verde é ideia original do governador Irwandi Yusuf, que também é ex-rebelde, veterinário treinado nos Estados Unidos e fundador da divisão de Aceh da Fauna and Flora International. Ele apresentou o Aceh Verde para o mundo na Conferência de Mudança Climática das Nações Unidas em 2007, em Bali, onde, para o aplauso dos ambientalistas, ele declarou pretender transformar sua província num modelo mundial de sustentabilidade.

Analistas têm elogiado bastante o espírito do programa, que deixa entrever um futuro potencialmente brilhante para uma região conhecida por desastres e conflitos. Vários meses após a conferência de Bali, o governador declarou a interrupção de toda exploração madeireira na floresta de Ulu Masen e iniciou o programa de guardas florestais com a Fauna and Flora.

Em fevereiro de 2008, Ulu Masen se tornou a primeira floresta a ser internacionalmente reconhecida como protegida pelo programa das Nações Unidas chamado REDD (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation in Developing Countries). O sistema permite a países ricos compensar suas emissões de carbono pagando a países pobres para que preservem suas florestas. O projeto poder trazer a Aceh cerca de US$ 26 milhões em créditos de carbono se puder proteger com sucesso toda a selva de Ulu Masen, com 770 mil hectares.

"O Aceh Verde é a articulação de uma visão que Pak Irwandi tem há muito tempo", afirmou Lilianne Fan, ex-agente humanitária que agora trabalha como conselheira para o governador no Aceh Verde, usando título de cortesia indonésio antes do nome do governador.

Aceh, que cobre a ponta norte da Ilha de Sumatra e possui população de mais de 4 milhões de pessoas, tem alguns dos depósitos mais ricos do mundo de riqueza natural, incluindo gás natural, petróleo, carvão, ouro, ferro, cobre, estanho e madeira dura. Foi a luta para controlar os lucros advindos desses recursos naturais que deflagrou a longa rebelião separatista.

Agora, o governo provincial, apoderado por um acordo de paz de 2005 que lhe dá autonomia limitada de Jacarta, capital da Indonésia, espera extrair esses recursos de forma sustentável e para o benefício de seus moradores.

Críticos afirmam que, embora o Aceh Verde seja uma boa ideia, a província não tem a infraestrutura de governo e a força de vontade para torná-lo efetivo.

Alguns agentes humanitários ironicamente se referem ao programa como "Aceh Marrom", apontando que, nas áreas remotas onde eles trabalham, o barulho das serras ficou mais alto que nunca, apesar do Aceh Verde e da interrupção das atividades madeireiras. Em resposta, o governo afirma que ainda não é capaz de monitorar a floresta inteira.

Uma das forcas por trás do Aceh Verde é uma necessidade urgente de melhorar a economia do local. Analistas afirmam que o crescimento é essencial para a manutenção da paz, mas a economia está hesitante à medida que os esforços multibilionários de reconstrução após o tsunami de 2004 estão diminuindo. Ambientalistas locais agora temem que, na pressa para compensar o desemprego que chegou com o fim de projetos de ajuda internacional aqui, o espírito do Aceh Verde seja diluído.

O governador "apoia os investidores, não o meio ambiente", afirmou Arifsyah Nasution, coordenador da Kuala, uma organização guarda-chuva que representa 25 grupos ambientais locais. "O governador diz que eles estão fazendo as coisas de uma 'forma verde', mas ainda não vimos nenhum resultado. Para nós, é tudo jargão, uma forma de atrair investimentos de grande escala".

No centro das dificuldades do Aceh Verde está a falta de um governo plenamente operante em grande parte da região. Mais de 30 anos de conflitos e o tsunami deixaram governos provinciais e locais em farrapos. A corrupção, especialmente na esfera local, continua a prevalecer, segundo organizações de monitoramento como a Transparency International.

"A equipe do Aceh Verde trabalha sozinha", disse Nasution sobre o time do governador, que trabalha fora de Banda Aceh, a capital da província. "Há pouquíssima coordenação ou entendimento entre outros setores do governo. Há muitas regulamentações conflitantes em vários níveis do governo", ele acrescentou. "É uma bagunça".

Fan afirmou que a equipe da Aceh Verde planejava passar os próximos dois anos fortalecendo habilidades de governança entre líderes locais e provinciais. Eles também estão revisando diretrizes florestais, assim como extração de recursos. Vários projetos estão previstos, disse Fan, incluindo uma parceria entre o governo indonésio e o banco alemão de desenvolvimento KfW para trabalhar recursos geotérmicos.

Para algumas pessoas, incluindo os antigos rebeldes que viraram guardas florestais, o Aceh Verde se tornou um tipo de doutrina provincial.

Kamarullah, 32 anos, ex-combatente rebelde que extraía madeira ilegalmente que, como muitos indonésios, usa apenas um nome, disse que agora se considerava um ativista ambiental.

"Eu nunca soube como usar a floresta com sabedoria", disse ele, durante uma patrulha. "Agora eu entendo a importância da floresta. A partir de agora, sempre irei protegê-la, sua vida selvagem e o meio ambiente, mesmo que um dia eu não seja mais guarda florestal".

Fonte: G1

quinta-feira, 1 de abril de 2010

17ª visita técnica do Diagnóstico de Campo Turistico-Ambiental de Nova Friburgo, RJ: São Romão – Encontro dos Rios

No dia 21 de março de 2010 foi realizada a 17ª visita técnica do Projeto Diagnóstico de Campo Turístico-Ambiental de Nova Friburgo (DCTA-NF), realização do Centro de Estudos e Conservação da Natureza (CECNA) e Equipe de Turismo Receptivo de Nova Friburgo (ETR) com o apoio da Universidade Livre da Floresta Atlântica (UNIFLORA) e da Agenda 21 Local de Nova Friburgo. O trajeto percorrido, de 15,1 Km de extensão, foi entre a localidade de São Romão e o Encontro dos Rios Macaé e Bonito.
 
Mapa 1: localização do município de Nova Friburgo.

Mapa 2: Trajeto percorrido.

Mapa 3: Cobertura vegetal de Nova Friburgo.


Mapa 4: Detalhes do trajeto (clique na imagem para ampliar).

Esse percurso tem como característica principal percorrer localidades pouco conhecidas em Nova Friburgo, apesar das mesmas estarem localizadas dentro de seu território. São elas: São Romão, Cascata e Santa Luzia. Entre os principais fatores para esse desconhecimento está a deficiência de transporte público para essas localidades, agravada sobretudo pela ausência de linhas de ônibus municipais.

A principal via de acesso para essas localidades é a RJ-142, conhecida popularmente como Serramar, cuja história e características principais foram abordadas no relatório da 3ª visita técnica (Lumiar - Encontro dos Rios). O fato da Serramar até pouco tempo atrás ser uma estrada de terra em condições precárias também contribuiu para o distanciamento da população friburguense para essa região. Somente recentemente o fluxo de turistas, tanto de Nova Friburgo quanto das cidades litorâneas para essa região começou a aumentar, o que pode ser comprovado pela intensificação da visitação no Encontro dos Rios.

Um leque de dúvidas surge quanto aos limites municipais nessa região. São quatro municípios que tem parte de seus territórios presentes nas proximidades da Serramar: Nova Friburgo, Casimiro de Abreu, Macaé e Silva Jardim. O rio Macaé, entre Santa Luzia e São Romão, é o objeto geográfico que define o limite entre Nova Friburgo (margem esquerda) e Casimiro de Abreu (margem direita). Nesse trecho, a Serramar acompanha o rio Macaé a sua direita, ou seja, dentro de Casimiro de Abreu. Mas as vilas de Santa Luzia, Cascata e São Romão estão localizadas à esquerda do rio Macaé, consequentemente, dentro do município de Nova Friburgo. Por terem o principal acesso pela Serramar, muitas pessoas acreditam que essas vilas pertencem a Casimiro de Abreu, e também pela proximidade do centro desse município, principalmente em relação à São Romão. O serviço de coleta de lixo domiciliar inclusive é feito pela prefeitura de Casimiro de Abreu, apesar de ser território friburguense.

No entanto, apesar de ser a rodovia asfaltada o eixo principal da região, a presente visita técnica se deu por caminhos alternativos localizados sempre à margem esquerda do rio Macaé, ou seja, integralmente dentro do território de Nova Friburgo. A maior parte do percurso foi constituída por estradas de terra e alguns trechos por trilhas. Como a opção foi iniciar por São Romão, praticamente todo o trajeto foi configurado por subidas.

Na localidade de São Romão pode observar grande fragmentos de floresta em estágios avançados de regeneração, como pode-se comprovar pelo Mapa 2 e pelas Fotos 1, 2 e 3. A vila em si é bem pequena, constituída apenas por algumas casas e sítios de veraneio. Destaque para uma grande pousada, em cuja maior parte da propriedade foi criada uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) lavrada pelo IBAMA. O córrego São Romão, que corta a localidade e que deságua no rio Macaé logo abaixo também se destaca pelas águas cristalinas de excelente qualidade. Já no rio Macaé pode-se observar alguns pontos para banho, certamente bastante utilizados pelos moradores locais.

Na paisagem, morros e encostas acima, há predominância de floresta nativa com algumas manchas de pastagens e, principalmente bananais, como na Foto 1.

Em direção à Cascata, percorre-se uma surpreendente estrada de terra predominantemente plana, que fica escondida da vista pela Serramar por causa das grandes árvores que compõem uma espécie "paredão verde". Ao caminhar por ela observam-se grandes indivíduos arbóreos às suas margens. Analisando o mapa de cobertura vegetal constata-se ser esse trecho a borda de um fragmento importante de floresta nativa em estágio avançado de regeneração e, portanto, extremamente importante para a conservação da biodiversidade regional. Essa é uma situação que necessita alerta, pois, pelo fato de ser um trecho plano e muito próximo a uma rodovia asfaltada, há um grande risco de surgir ocupações irregulares, colocando em risco a integridade dos processos ecológicos naturais do local.

Após um pequeno trecho de trilha, no Km 6 do percurso, chega-se à localidade de Cascata. A partir daí a paisagem modifica-se, apresentando uma maior fragmentação das áreas de floresta nativa e aumento das pastagens. Mais uma vez, assim como na maioria das visitas realizadas, praticamente não se vê rebanhos pastando, o que comprova que a retirada da floresta nada mais é do que a forma mais fácil de ocupação das propriedades. Os donos ou ocupantes dessas propriedades acreditam que essa é a melhor forma de garantir a posse de seu terreno, evitando possíveis invasões e desapropriações. Agindo assim, não levam em consideração a degradação ambiental causada, incluindo a perda da qualidade das águas (quando não o seu desaparecimento) e a possibilidade de adoção de práticas de manejo agroflorestal, que agregariam valor à terra não só pela manutenção da integridade dos ecossistemas naturais que geram serviços ambientais mas como também pela possibilidade de diversificação econômica através de cultivos consorciados com a floresta.

Essa paisagem composta em sua maioria por pastagens predomina no lado de Casimiro de Abreu, nos morros e encostas da margem direita do rio Macaé. Na margem esquerda, dentro de Nova Friburgo e por onde o trajeto é percorrido, devido ao relevo composto por vertentes mais íngremes, há uma maior área de floresta em diferentes estágios de regeneração natural em detrimento às pastagens e às monoculturas, como as de eucalipto e banana, apesar dessas se fazerem presentes.

Uma observação importante em relação a essa situação que pode ser vista com maior clareza do lado de Casimiro mas que não pode ser descartada do lado de Friburgo é que a ausência de cobertura florestal próxima à rodovia potencializa a possibilidade de deslizamentos de terra. O maior exemplo de tal fenômeno aconteceu no ano de 2009. Uma grande movimentação de massa na margem direita da Serramar, sentido Casimiro, próxima à entrada de Cascata, que bloqueou a passagem por completo nos dois sentidos. Foram necessários meses de trabalho para a retirada de milhares de toneladas de terra, causando um prejuízo de milhões de reais, tanto devido aos gastos com a locomoção da terra e a construção de um imenso muro de contenção (ver Foto 9) quanto da impossibilidade do trânsito pela estrada que interliga a região Serrana com a região das Baixadas Litorâneas. Sem contar a possibilidade de perda de vidas humanas, como aconteceu em outro evento da mesma natureza no mesmo ano, na localidade de Santa Luzia.

Próximo ao centro de Cascata destaca-se a Cachoeira de Fumaça, ponto turístico principal do percurso, excetuando-se o Encontro dos Rios. Certamente é a queda d'água com maior volume da região, tendo em vista que é o próprio rio Macaé que cai de uma altura de cerca de trinta metros. O nome é devido a um efeito de "spray" criado pelo impacto da água em uma espécie de "mesa" rochosa que faz com que seja criada uma cortina de água que se descola no ar por alguns metros de distância e que, dependendo da intensidade e posição do sol, cria um pequeno arco-íris no local, fenômeno que se teve o privilégio de presenciar no momento da visita, como pode ser visto na Foto 14.

A localidade de Cascata é a mais populosa do trajeto. Conta com pousadas, bares, restaurante e pequenas mercearias. Muitas casas são de elevado padrão, podendo muitas delas ser de moradores de outras cidades que ali passam os finais de semana.

Após Cascata, novamente começa-se a caminhar por uma estrada de terra. A partir desse ponto o percurso passa a ser composto por subidas bastante íngremes até Santa Luzia. Pelo fato do relevo apresentar maiores declividades, novamente a cobertura florestal de maior porte volta a aparecer. Nesse trecho encontram-se várias nascentes e córregos no caminho que permitem o reabastecimento dos cantis. Mais uma vez pode-se observar na outra vertente do vale do rio Macaé, em Casimiro de Abreu, a predominância das pastagens (ver Foto 15).

No Km 12,2 chega-se à localidade de Santa Luzia. Com poucas casas, foi observado apenas um restaurante na beira da rodovia, próximo à famosa ponte do local. Nesse ponto o rio Macaé adentra o território do município de Nova Friburgo, deixando de servir como limite entre esse município e Casimiro de Abreu. A partir daí, o trajeto passa a ser percorrido pela rodovia RJ-142 (Serramar) que acompanha o leito do rio Macaé pela margem esquerda desse. Do outro lado do rio há uma trilha que conecta a estrada que liga o Encontro dos Rios à famosa vila de Aldeia Velha, no município de Silva Jardim.

Da ponte de Santa Luzia até o Encontro dos Rios, final do trajeto, percorre-se uma distância de 2,9 Km. A paisagem desse trecho é composta por um mosaico de fragmentos de floresta nativa de grande porte e pastagens. Praticamente não há cultivos, com algumas exceções de eucaliptais. O relevo é bastante acidentado, o que força o leito da estrada ser bastante sinuoso, tornando-o relativamente perigoso para o trânsito. Por isso, torna-se urgente a melhoria da sinalização e da fiscalização em toda a rodovia com objetivo de melhorar a segurança. Há muitos registros de acidentes, sobretudo de motocicletas.

É imperioso que, devido a todas as características naturais e socioeconômicas da região, seja implementado o conceito de estrada-parque na Serramar. Muito foi falado sobre isso antes de seu asfaltamento em 2005, mas o fato é que nada aconteceu nesse sentido. As obras na estrada foram feitas de forma tradicional, ou seja, sem atentar para as características próprias do relevo e natureza locais. Muitas vidas já foram perdidas e milhões de reais gastos em consertos causados por imprudência e falta de planejamento e gestão apropriados. Apenas proibir (parcialmente) o trânsito de veículos pesados não é suficiente para minimizar todo o impacto negativo causado pela criação dessa rodovia em uma região tão rica em recursos e atrativos naturais. No entanto, como ela já existe, resta torná-la uma ferramenta de desenvolvimento econômico ambientalmente equilibrado da região, sobretudo do município de Nova Friburgo.

Foto 1: Em São Romão, paisagem composta por floresta nativa e um bananal (localizado acima a esquerda).

Foto 2: Meandro do rio Macaé visto da ponte de São Romão. As águas do Macaé aqui apresentam uma coloração esverdeada um pouco mais turva que nas áreas mais altas da bacia hidrográfica.

Foto 3: Bela vista do Mirante do Km 1,4, onde observa-se a estrada que leva à São Romão, o rio Macaé e grande área florestada cobrindo as margens do rio e as vertentes dos morros locais ao fundo.

Foto 4: trecho da estrada que liga São Romão à Cascata. Destaque para árvores de grande porte localizadas na beira da estrada, cobrindo sua visão da rodovia.

Foto 5: trecho do rio Macaé, ao lado da mesma estrada.

Foto 6: no Km 3,4, a interessante e imponente Pedra do Pachú.

Foto 7: trecho do rio Macaé depois da trilha que começa na Pedra do Pachú, da foto anterior.

Foto 8: nesse ponto o rio se alarga, formando outra bela paisagem, com um conjunto de morros ao fundo.

Foto 9: nessa foto pode-se observar no canto superior esquerdo o gigantesco muro de contenção feito para "tentar segurar" parte da encosta que desabou em meados de 2009, provocando o bloqueio da rodovia Serramar por vários meses. Observe a dimensão do impacto visual causado na paisagem.

Foto 10: foto tirada no mesmo ponto da anterior, mas voltada para a vertente de Nova Friburgo. No fundo pode-se observar uma pequena feição do relevo em forma de "U" quadrado que corresponde a um prolongamento do afloramento rochoso da Pedra Riscada, na localidade de Lumiar.

Foto 11: vista do Mirante do Km 4,8.

Foto 12: em Cascata, paisagem formada predominantemente por pastagens. Repare no centro da foto o corte acentuado do talude feito para abrigar o leito da rodovia e a ausência de vegetação arbórea na parte superior do morro, a receita da tragédia...

Foto 13: ângulo da trilha da Cachoeira de Fumaça, no Km 5,5.

Foto 14: um momento único, um arco-íris formado no "spray" da Cachoeira da Fumaça. A paisagem e o volume d'água da cachoeira proporcionado pelo rio Macaé faz desse ponto um dos melhores atrativos naturais de Nova Friburgo.

Foto 15: vista do Mirante do Km 7,6. Bem ao fundo avista-se um local conhecido como Quilombo, em Casimiro de Abreu.

Foto 16: Vista do Mirante do Km 11,5, próximo à Santa Luzia, onde observa-se um trecho da região com cobertura de pastagens e fragmentos de floresta, sustentada por um relevo composto de morros de altitude entre 500 e 1000 m aproximadamente, separados por vales suspensos formados por vertentes de declividade mediana. Paisagem predominante na vertente continental da Serra do Mar na altura do batólito da Serra dos Orgãos.

Foto 17: vista da rodovia, em direção ao final do percurso, no encontro dos Rios.