sábado, 31 de agosto de 2013

Campanha de reflorestamento renova esperança nos morros cariocas

Rio de Janeiro — Em uma clareira rodeada de árvores frondosas, Djair dos Santos, 66 anos, morador do Morro da Formiga (Tijuca, Zona Norte do Rio), capina uma nova área a ser reflorestada com vegetação nativa na parte alta da comunidade, onde, no passado, ocorreram deslizamentos mortais.

A Cidade Maravilhosa tem a maior floresta urbana do mundo, com mais de 35 mil hectares de Mata Atlântica que cobrem 29% de seu território. Mas devido ao desmatamento provocado pela expansão urbana, a cidade perdeu cobertura vegetal, expondo seus moradores a poluição, enchentes e deslizamentos que vitimizam, sobretudo, os mais pobres que vivem nas favelas.

Segundo a Prefeitura, a cidade do Rio tem umas 18 mil moradias em áreas de alto risco em 117 comunidades. Em 2011, mais de 900 pessoas morreram em deslizamentos na Serra Fluminense, a cerca de 100 km da capital, na maior tragédia ambiental do país.

== Uma nova realidade ==

Djair guarda na memória a tragédia de fevereiro de 1988, que matou seis pessoas no Morro da Formiga. Mas diz que agora a realidade mudou, enquanto acompanha outros 10 moradores do morro que participam do Mutirão de Reflorestamento.

"É gratificante para mim e todos os moradores ver que nos anos 1980 aconteceu um desastre nas chuvas, que um pedregulho rolou e matou pessoas (e isso não se repetiu). Isso acontecia muito. Com o reflorestamento, nunca mais", relata Djair, há 14 anos encarregado do Mutirão que recuperou 80 hectares no Morro da Formiga.


Em 26 anos, o programa da Prefeitura reflorestou mais de 2.200 hectares em cerca de 140 pontos da cidade, a maioria em comunidades carentes, com o plantio de 6 milhões de mudas de 150 a 200 espécies nativas da Mata Atlântica, como ipê, anjico e pau-brasil, com a colaboração de 800 moradores.

Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC), o reflorestamento ajuda a estabilizar encostas. A floresta aumenta a infiltração da água da chuva no solo. Sem a vegetação, a chuva arrasta os sedimentos da superfície para a parte baixa da cidade, assoreando canais de drenagem e causando enchentes e deslizamentos.

"O projeto no Morro da Formiga é um dos mais antigos da Prefeitura, começou em 1997. Como a comunidade está em área de risco devido à declividade alta, no passado houve muitos deslizamentos, mas posteriormente reduziram-se significativamente essas ocorrências", explica Marcelo Hudson, gerente de conservação da SMAC.

== Novas frentes ==

Desde 2010, a Prefeitura trabalha em uma nova fase do programa, chamada Rio Capital Verde, que prevê levar o Mutirão para novas frentes e recuperar outras áreas de difícil acesso com a contratação de empresas especializadas.

A meta é reflorestar 1.300 hectares com o plantio de 4 milhões de sementes até 2016. Espera-se que o replantio ajude a cidade a reduzir suas emissões e renda créditos de carbono para financiar projetos similares.

"O projeto carbono atende áreas reflorestadas por empresas, pois são de difícil acesso. Para isso (as autoridades municipais) vão usar créditos de carbono para custear o replantio onde não puderem fazê-lo com o Mutirão", explica Franka Braun, especialista da Unidade de Financiamento de Carbono do Banco Mundial, que trabalha com a prefeitura no Programa de Desenvolvimento de Baixo Carbono da cidade.

"Já temos o documento técnico do projeto de créditos e no próximo mês faremos a validação, que consiste em estabelecer uma amostra de parcelas (do terreno), onde serão feitas medições (nr: de absorção de CO2 por hectare). A área que vai render créditos tem uns 900 hectares" espalhados pela cidade, explica Braun.

"Estimamos que nessa área 50 mil toneladas de carbono tenham sido capturadas nos últimos três anos", continua Braun.

Além de ar limpo e encostas estáveis, o reflorestamento dá a cariocas e turistas novas áreas de lazer.

"Aqui na Formiga abrimos uma trilha que vai até a cachoeira. Já tem até turista que vem conhecer o local. Tem sábado que fica cheio aqui. Semana passada, fizemos uma caminhada ecológica. Vieram umas 30 crianças da comunidade. Eu fui andando com elas e explicando a importância do reflorestamento, que melhora a qualidade de vida de toda a cidade", conta Djair.

Para ele, a floresta representa esperança. "Posso até sair do Morro da Formiga, mas não por minha vontade. Quero continuar nisso aqui até quando Deus quiser", afirma.


Por VITORIA VELEZ (AFP)
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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Incra promete reduzir desmatamento em assentamentos

Tendo como contrapartida a anulação de 7 processos por danos ambientais, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) assinou acordo com o Ministério Público Federal (MPF) se comprometendo a reduzir em 80% os desmatamentos ocorridos em assentamentos para a Reforma Agrária até 2020, levando em conta os índices verificados em 2005. O termo foi assinado na tarde desta quinta-feira (08/08).


Pesquisa do Imazon em 2006 já havia identificado o tamanho expressivo do desmatamento em assentamentos. Em 2012, o Grupo de Trabalho da Amazônia Legal, que reúne procuradores da República de toda a região da Amazônia, pediu a atualização dos números, agora também com base nos dados do INPE: Os números confirmaram que o Incra é um dos maiores desmatadores.

Do total de 2.163 assentamentos na região amazônica, foram desmatados 133.644 km². O desmatamento anual pulou de 18% em 2004 para 31,1% em 2010. Em junho de 2012, o Ministério Público Federal propôs ações na Justiça Federal em seis Estados - Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima.

As principais causas do desmatamento nos assentamentos é a ausência de licenciamento ambiental e de Cadastro Ambiental Rural, por isso o acordo firmado hoje prevê a adoção de medidas de adequação ao Código Florestal e de recuperação da área degradada. Leia o termo de compromisso na integra aqui.

“Além de reduzir o desmatamento, é importante ressaltar que o acordo também visa a fortalecer a reforma agrária no país. Um dos compromissos do Incra é justamente o de oferecer assistência técnica qualificada ao assentado para que ele produza melhor e tenha condição digna de vida, sem necessidade de efetuar exploração predatória”, afirmou o procurador da República Daniel Azeredo, coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Amazônia Legal.


Participaram da cerimônia de assinatura do termo de compromisso o coordenador da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, subprocurador-geral da República Mario Gisi; o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Aurélio Veiga Rios; o presidente do Incra, Carlos Mário Guedes de Guedes; o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas; e os procuradores da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, Daniel César Azeredo Avelino, Felipe Bogado, Guilherme Rocha Gopfert, Leonardo Andrade Macedo, Márcia Zollinger, Rafael da Silva Rocha, Raphael Luis Pereira Bevilaqua e Rodrigo Timoteo da Costa e Silva.

Fonte: O Eco

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Municípios brasileiros precisam acabar com lixões até 2014

Cada brasileiro produz em média 1,1 kg de lixo por dia. São coletadas quase 200 toneladas por ano. Considerada uma revolução em termos ambientais, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, quer mudar a logística do lixo no Brasil. Depois de 21 anos de discussões no Congresso Nacional, um dos maiores desafios propostos pela lei é que até 2014 o País não tenha mais lixões.

Outro avanço proposto por ela é que fabricantes, distribuidores e consumidores de limpeza pública sejam obrigados a implantar um sistema de logística reversa, ou seja, uma vez descartadas, as embalagens são de responsabilidade dos próprios fabricantes, que devem criar um sistema para reciclar o produto.

A sensibilização dos prefeitos para o cumprimento da lei é considerada um dos desafios, especialmente no que se refere ao fim dos lixões. “As ações não estão acontecendo no ritmo desejado. Cumprir integralmente com essa meta provavelmente seja difícil”, vislumbra a Coordenadora Executiva do Instituto Pólis, que compõe a Coordenação do Fórum Lixo e Cidadania da Cidade de São Paulo, Elisabeth Grimberg.

Pela política nacional de resíduos sólidos, todos os municípios devem oferecer a coleta seletiva à população. Além disso, a nova lei também disciplina a coleta, o destino final e o tratamento de resíduos urbanos, perigosos e industriais.

“A lei é inovadora. Ela traz obrigações desde o consumidor até o empresário, passando pelo governo e organizações de classe, atinge toda a sociedade”, considera a diretora de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Zilda Veloso.

Para ela, o primeiro grande desafio é acabar com os lixões no país. Por isso, há a necessidade de uma mudança de cultura, do comportamento de enterrar o lixo. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mais da metade dos municípios brasileiros possuem lixões. São ao todo 2.906 lixões, que devem ser fechados até o próximo ano. Dos 5.564 municípios brasileiros, somente 766 fazem coleta seletiva do lixo.

Mudança na forma de tratar o lixo – Na avaliação da professora Emília Wanda Rutkowski, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a nova lei trouxe avanços importantes. Para ela, a questão dos resíduos sólidos passou a ser vista de forma diferenciada.


“Ela vai para a agenda pública de outra maneira. Até então era colocada pelos prefeitos como a maior despesa e se resumia a isso. Com a lei, passou a ser uma discussão da sociedade”, defende.

Na avaliação da professora, a nova lei ainda não levou a uma mudança de comportamento. “Mas as prefeituras estão mudando sua postura em relação aos resíduos”, observa. Como exemplo ela cita o estado de São Paulo, que tenta fazer acordos com a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) para a execução da política da logística reversa. “O destino mais nobre para o lixo é não ser lixo. É poder pensar o que é passível de ser reciclado, reutilizado ou compostado”, analisa a professora.

Logística reversa – Um dos aspectos considerados inovadores da lei, na avaliação dos especialistas, é o que se chama de logística reversa. A intenção é instituir a responsabilidade de reciclagem dos produtos para fabricantes. Segundo o conceito, eles seriam obrigados a implantar sistemas de retorno para a indústria de materiais como eletroeletrônicos e pneus.


Mas a aplicação do novo sistema ainda precisa ser viabilizada. De acordo com Grimberg, há um acordo setorial encaminhado para questão de embalagens junto ao MMA que poderia ser considerado um avanço. “Mas, na minha opinião, não é, porque o empresariado não quer arcar com o custeio desse sistema”, conclui.

Fonte: Terra

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Poluição é maior causa de protestos na China; situação é caótica em Pequim


Mais da metade dos incidentes públicos na China são originados da insatisfação com o meio ambiente no país, conforme Chen Jiping, ex-chefe do Comitê de Assuntos Políticos e Legislativos do Partido Comunista da China (PCC). Há entre 30 mil e 50 mil protestos anualmente no país, de acordo com Chen.

“Se você quer construir uma planta industrial, e essa planta poderá causar câncer, como as pessoas poderiam permanecer calmas?”, indagou Chen durante a Conferência Popular de Consulta e Política em abril, em Pequim.

Com o aumento da pressão social, até mesmo as políticas nacionais precisaram ser mudadas. Na semana passada, foi o final de semana que mudou de data. A China celebra no dia 4 de maio um importante movimento estudantil ocorrido em 1919. Mas em Chengdu, capital da província de Sichuan, a data também representa o aniversário de seis anos de um protesto contra a construção de uma refinaria de óleo e produtos petroquímicos, como o P-xileno, da PetroChina – um projeto que absorveu um investimento de US$ 6 bilhões.


Durante a semana que precedeu o dia 4, milhares de mensagens e panfletos foram distribuídos pela cidade e entre seus 15 milhões de habitantes urbanos. Os textos chamavam para um protesto contra a instalação de outras fábricas que produzem P-xileno – um químico altamente poluente utilizado na fabricação de plástico PET – na região. Uma mulher foi obrigada a pedir desculpas na televisão local por repassar um post no seu microblog pessoal sobre o protesto, marcado para o meio-dia de sábado.

Dez dissidentes foram presos e moradores receberam a visita de policiais que pediam que as pessoas “não acreditassem nos boatos disseminados por pessoas que queriam utilizar a data para criar caos”. A resposta do governo provincial foi trocar o final de semana para a segunda-feira, dia 6, deixando o sábado como um dia útil e minando as chances de o protesto virar um grande aglomerado fora do controle.

Procurada pelo Terra, a prefeitura de Chengdu não quis dar entrevista sobre o ocorrido.

Em Kunming, cidade vizinha, o protesto contra a mesma fábrica aconteceu e levou mais de duas mil pessoas às ruas. A refinaria da PetroChina é alvo de protestos desde 2007, e a mobilização social já conseguiu embargar a contrução de plantas nas cidades de Xiamen, Dalian e Nigbo.

“Arpocalipse” – Estudo publicado em março pelo Deutsche Bank aponta que o governo central precisa de um plano “big bang” para lidar com sua crise ambiental. O nome do plano sugerido pelo banco é consoante à realidade dos números da poluição do ar no país, que chegaram ao cataclismo em janeiro deste ano.

Em uma escala de medição da concentração de partículas PM 2.5 (as de diâmetro igual ou inferior a 2.5 micrômetros, altamente nocivas por serem difíceis de serem filtradas) em um metro cúbico de ar chegou a 993 em janeiro em Pequim – em um episódio que ficou conhecido como o “arpocalipse”. A régua de medição, criada em Pequim pela Embaixada dos Estados Unidos, vai de 0 (ar não é poluído) a 500 (poluição altamente nociva). Conforme a Organização Mundial da Saúde, concentrações acima de 100 micrômetros por metro cúbico são consideradas o pior nível para a saúde.

Na capital chinesa, a situação é mais do que caótica. Um estudo liderado pela Universidade de Pequim e o Greenpeace mostra que o alto índice de PM2.5 no ar causam a morte de 8.572 pessoas ao ano, o que representa um perda econômica de US$ 1,08 bilhão ao centro do poder do PCC.

Depois do “arpocalipse” de janeiro, a prefeitura de Pequim anunciou um investimento de 100 bilhões de yuans (R$ 32,7 bilhões) em três anos para tratar da poluição do ar e esgotos. Mais de 39% da contaminação do ar na cidade, contudo, vem dos arredores; em um raio de 600 quilômetros da cidade há mais carvão consumido do que nos Estados Unidos. A província vizinha de Hebei é responsável por 80% da queima nacional de carvão – a fonte de energia mais utilizada na China. Entre 50% e 70% das PM2.5 respiradas em Pequim são oriundas de Hebei e Shandong, que dividem fronteira com a capital. As duas províncias juntas consumiram, em 2011, 700 milhões de toneladas de carvão – mais do que a Alemanha queima anualmente e do consumo total da Índia –, segundo o Greenpeace.

Mídia – Pauta diária das mídias nacional e estrangeira, a crise ambiental chinesa tem levado centenas de milhares de chineses às ruas para protestar por melhores condições de vida. E muitos dos protestos, como o marcado para acontecer no dia 4 de maio em Chengdu, tornam-se possíveis em função das novas ferramentas eletrônicas disponíveis.

“O governo agora se vê pressionado para lidar com os casos mais rapidamente, pois a imprensa está revelando muito mais casos, e as pessoas ficam sabendo mais através das mídias sociais”, aponta Ma Haibing, gerente do programa para a China do Worldwatch Institute, de Washington.

De acordo com Yang Zhaofei, vice-diretor da Sociedade Chinesa de Ciência Ambiental, o número de incidentes públicos envolvendo poluição vem crescendo a uma média de 29% ao ano desde 1996. No ano passado, o aumento foi de 120% comparado ao ano anterior. “Esse acréscimo está ligado intimamente à popularização da internet e, especialmente, ao surgimento dos microblogs”, avalia Ma.

O especialista explica que, há uma década, o assunto “meio ambiente” era ainda um tabu, e muitas das histórias envolvendo vilas de câncer e poluição por fábricas eram somente reveladas por empresas de mídia de outras províncias, que não poderiam sofrer retaliação das prefeituras diretamente. Com a escalada do uso de redes sociais nos últimos dois anos, ocultar casos como o de Sichuan se tornou uma tarefa quase impossível.

Em Niuchong, uma vila na província de Hubei, o número de pacientes com câncer aumentou 80% nos últimos 30 anos. A poluição da água por crômio-6, cádmio e arsênico causada pela Dasheng, empresa que explora mina de fosfato e fabrica fertilizantes, fez de Niuchong um dos mais novos casos crônicos de vilas de câncer na China – um lugar onde nem os porcos sobrevivem à alimentação com melancias plantadas na região. Desde 2010, um grupo organizado por camponeses locais protesta semanalmente em frente às portas da fábrica. Os três primeiros líderes das mobilizações foram presos.

Liu Jianqiang, editor do portal China Dialogue e especialista em meio ambiente, acredita que o crescimento da classe média e a melhora da qualidade de vida contribuíram com a coragem que a sociedade precisava para levar os protestos do mundo virtual para o real. “A situação já está intolerável, e é uma ameaça à saúde e à vida. Morador de nenhuma cidade vai mais aceitar que uma fábrica esteja matando seus filhos – e filhos únicos – pouco a pouco para garantir suas altas receitas.”

Fonte: Terra

segunda-feira, 1 de abril de 2013

China e Brasil investem em pesquisa conjunta de energias limpas


O Brasil, com sua matriz energética considerada uma das mais “limpas” do mundo, com 45% proveniente de fontes renováveis, e China, a maior poluidora do planeta, estão trabalhando em conjunto para desenvolver pesquisas que auxiliem no desenvolvimento de inteligência em novas energias com enfoque comercial. “A China quer se tornar um grande produtor de energias renováveis, e o mercado verde deverá ser um grande impulso para o reaquecimento da economia mundial”, diz o diretor geral do Ministério de Ciência e Tecnologia Chinês, Wang Qiang.

Pauta recorrente no cenário internacional, a China está muito interessada em soluções mais limpas. Na metade do ano passado, Pequim reiterou a intenção do seu Plano Quinquenal com aporte de 816 bilhões de yuans (cerca de R$ 268 bilhões) em medidas contra a poluição do ar e da água, além de outros 932 bilhões de yuans (aproximadamente R$ 306 bilhões) que serão destinados a iniciativas para a construção civil e produção de automóveis que usem menos recursos não renováveis.

O ministro da Indústria e Tecnologia da Informação, Miao Wei, anunciou na semana passada subsídios para carros que rodem com energia limpa, um audacioso plano que pretende alavancar as vendas de automóveis “verdes” de 12.791 unidades em 2012 para 500 mil em 2015.

Brasil e China são grandes expoentes atuais nas pesquisas em energia limpa. O Brasil com o desenvolvimento de pesquisas em energia eólica e marítima, e os chineses com os painéis solares, um mercado que lideram mundialmente com 60% da produção. A China tomou como prioridade em 2012 o desenvolvimento tecnológico de bioenergia, energia solar e tratamento de resíduos, um plano consoante ao Plano Quinquenal iniciado em 2010 que tem o enfoque nas indústrias limpas.

Cooperação Brasil-China – A participação brasileira no projeto chinês é encabeçada pelo Centro China-Brasil de Mudanças Climáticas e Tecnologias Inovadoras em Energia (Coppe), criado em 2010 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela chinesa Tsinghua. O modelo inspira-se na criação de parcerias entre empresas e universidades desenvolvido na China, num processo iniciado durante a abertura econômica, em 1979, e a privatização de centenas de empresas.



A ideia é que o projeto sirva como um complemento, senão uma alternativa, ao programa Ciência Sem Fronteiras, que até o final de fevereiro tinha oferecido mais de 22,646 mil bolsas para pesquisadores brasileiros em 16 países – 22,4% da meta de 101 mil bolsas até 2015 – conforme anunciou o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Glaucius Oliva.

“Temos enviado professores e pesquisadores da Coppe para estadas curtas nas instituições chinesas. Queremos ampliar a cooperação e dar apoio aos grupos brasileiros com interesse no país asiático”, diz Segen Estefen, diretor de tecnologia e inovação do Coppe/UFRJ e um dos diretores do centro conveniado em Pequim. O Coppe/UFRJ formou, no final de 2012, os dois primeiros doutores chineses do Centro.

Coppe – O Coppe foi iniciado com o apoio da Finep, a Agência Brasileira da Inovação, uma empresa pública vinculada ao MCTI, e foi ampliado no caso das pesquisas em petróleo com o aporte da ANP (Agência Nacional do Petróleo) e da empresa chinesa Sinochem, que atua no Brasil.

Conforme Estefen, a ideia do projeto é alinhar as pesquisas brasileiras com as chinesas e aproximar a pesquisa nacional e demais setores da economia brasileira “que possam se beneficiar da aproximação à inteligência chinesa”.

“No setor do petróleo temos grande capacitação nas tecnologias para águas profundas, enquanto nossos colegas chineses dominam grande parte das tecnologias complexas de perfilagem de poços”, aponta o engenheiro.

O novo boom chinês – Durante a visita oficial da presidente Dilma Rousseff a Pequim em 2011, diversos acordos de entendimento foram assinados entre os dois países para o desenvolvimento de centros de pesquisa binacionais e de transferência tecnológica. “Nosso ministério está engajado em concretizar esses acordos entre os dois países”, garantiu Wang durante encontro ocorrido em Pequim na universidade Tsinghua no início de março, que contou com a presença da diretoria do Coppe do Brasil e da China, além de representantes do governo brasileiro e do BNDES.

Durante a visita ao Brasil no ano passado do ministro de Ciência e Tecnologia da China, Wang Gang, foi reiterada a intenção de organizar um seminário com o Brasil sobre parques tecnológicos ainda no primeiro semestre de 2013, além de uma segunda rodada do Diálogo de Alto Nível em Ciência e Tecnologia em setembro. A primeira edição do diálogo ocorreu em Pequim em abril de 2011, durante visita da presidente Dilma.

Parte do plano mandarim é transformar o país do “made in China” (feito na China) no do “developed in China” (desenvolvido na China), e vender essa nova faceta para o mundo da mesma forma que vendeu a fábrica barata de produtos de qualidade baixa. E o Coppe deverá liderar os projetos iniciados entre os dois países para a comercialização de novas tecnologias e a aproximação das universidades brasileiras à realidade norte-americana que mantém cooperações bastante próximas entre universidades e empresas.

Este é o primeiro estágio da cooperação entre a UFRJ e a Tsinghua. “Estamos identificando empresas e tecnologias dos dois países que podem ter sinergias para o estabelecimento de negócios conjuntos na área tecnológica. Tivemos na delegação brasileira um representante do BNDES, que está atento e interessado em apoiar iniciativas oriundas desta cooperação e que possam atingir os dois mercados”.

No Brasil, o envolvimento de empresas em pesquisas científicas fica em 42,7%, abaixo dos 70% realizados em países considerados inovadores.

Enquanto a preocupação no lado brasileiro reside na transferência de tecnologia para o País, a China procura um entendimento com a área comercial e a propriedade intelectual. Para Wang, os pesquisadores necessitam, além de um incentivo governamental para suas pesquisas, um enfoque empresarial para seus projetos. “É preciso pesquisar novos modelos comerciais, além dos tecnológicos. Falar da transferência tecnológica por si não é o caminho, e sim uma discussão em torno da pesquisa de novos modelos de comercialização tecnológica”.

Em um novo acordo entre o Ministério das Finanças e o de Ciência e Tecnologia chineses, anunciado em janeiro deste ano, debateu-se a criação de políticas de apoio para o setor de pesquisa e desenvolvimento no país. Bancos em Pequim e nas províncias de Jiangsu e Guangdong também estão trabalhando em apoios especiais para empresas de pequeno porte que necessitem de apoio fiscal e financeiro para desenvolvimento de tecnologia em indústrias emergentes. 

Fonte: Ambiente Brasil

segunda-feira, 4 de março de 2013

Biodiesel produzido por cianobactérias rende quase mil vezes mais do que o de milho, aponta pesquisa da USP


As cianobactérias – organismos unicelulares fotossintetizantes – são uma opção econômica e viável para a produção de biodiesel, segundo pesquisa da USP (Universidade de São Paulo). Um hectare de milho produz 168 litros de biodiesel, o equivalente ao mesmo hectare de cianobactérias produziria 140 mil litros do cianodiesel. Além disso, em seu cultivo, podem ser utilizadas águas residuais e marinhas, por isso não há necessidade de terra cultivável, o que não interfere na produção de alimentos.


O que é? – As cianobactérias são organismos microbianos de aplicações biotecnológicas variadas e de potencial de desenvolvimento ilimitado. Elas são unicelulares e produzem seu próprio alimento, dependendo apenas de água, dióxido de carbono, substâncias inorgânicas e luz (fotossintetizantes).

O cianodiesel é produzido com o lipídeo extraído desses organismos, que se multiplicam facilmente em meio aquoso em colônias, além de serem tolerantes a variações salinidade, temperatura e até mesmo poluição. Existem muitas linhagens de cianobactérias, inclusive algumas tóxicas, como as algas azuis que comprometem a qualidade da água de vários reservatórios, como a Represa Billings, em São Paulo. Na pesquisa não foram utilizadas espécies toxicas.

A pós-doutoranda Caroline S. Pamplona da Silva, que participou do projeto, disse que foram avaliadas várias linhagens e duas apresentaram resultados bastante promissores. “Os óleos dessas duas linhagens com características químicas adequadas foram testados na síntese de biodiesel comercialmente aceito. No entanto, a produção de biomassa em larga escala ainda é um desafio”, afirmou ela.

A utilização de cianobactérias na produção de biodiesel tem várias vantagens, como diminuir a pressão sobre outras matérias-primas, como o milho, sorgo, soja, mamona e girassol, que são fontes de alimentação mundial.

Caroline disse ainda que a necessidade nutricional das células de cianobactérias é simples; o período de produção de biomassa é curto e a concentração de óleo pode chegar a 50% da biomassa seca; menos emissões e contaminantes do que o combustível derivado do petróleo; o gás carbônico emitido pelas indústrias pode ser usado como fonte de carbono para seu cultivo e, quando cultivadas em sistemas contínuos, podem ser colhidas diariamente.

A professora Heizir Ferreira de Castro disse que as cianobactérias são mais uma opção para a produção do biodiesel, mas não são “a salvação da lavoura”, ou seja, não podem substituir totalmente as outras matrizes. “Seriam uma opção porque têm maior produtividade. Nós retiramos o óleo vegetal delas e transformamos como se fosse qualquer outro óleo”, disse ela.

Fonte: http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/03/04/92060-biodiesel-produzido-por-cianobacterias-rende-quase-mil-vezes-mais-do-que-o-de-milho-aponta-pesquisa-da-usp.html