sábado, 31 de agosto de 2013

Campanha de reflorestamento renova esperança nos morros cariocas

Rio de Janeiro — Em uma clareira rodeada de árvores frondosas, Djair dos Santos, 66 anos, morador do Morro da Formiga (Tijuca, Zona Norte do Rio), capina uma nova área a ser reflorestada com vegetação nativa na parte alta da comunidade, onde, no passado, ocorreram deslizamentos mortais.

A Cidade Maravilhosa tem a maior floresta urbana do mundo, com mais de 35 mil hectares de Mata Atlântica que cobrem 29% de seu território. Mas devido ao desmatamento provocado pela expansão urbana, a cidade perdeu cobertura vegetal, expondo seus moradores a poluição, enchentes e deslizamentos que vitimizam, sobretudo, os mais pobres que vivem nas favelas.

Segundo a Prefeitura, a cidade do Rio tem umas 18 mil moradias em áreas de alto risco em 117 comunidades. Em 2011, mais de 900 pessoas morreram em deslizamentos na Serra Fluminense, a cerca de 100 km da capital, na maior tragédia ambiental do país.

== Uma nova realidade ==

Djair guarda na memória a tragédia de fevereiro de 1988, que matou seis pessoas no Morro da Formiga. Mas diz que agora a realidade mudou, enquanto acompanha outros 10 moradores do morro que participam do Mutirão de Reflorestamento.

"É gratificante para mim e todos os moradores ver que nos anos 1980 aconteceu um desastre nas chuvas, que um pedregulho rolou e matou pessoas (e isso não se repetiu). Isso acontecia muito. Com o reflorestamento, nunca mais", relata Djair, há 14 anos encarregado do Mutirão que recuperou 80 hectares no Morro da Formiga.


Em 26 anos, o programa da Prefeitura reflorestou mais de 2.200 hectares em cerca de 140 pontos da cidade, a maioria em comunidades carentes, com o plantio de 6 milhões de mudas de 150 a 200 espécies nativas da Mata Atlântica, como ipê, anjico e pau-brasil, com a colaboração de 800 moradores.

Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC), o reflorestamento ajuda a estabilizar encostas. A floresta aumenta a infiltração da água da chuva no solo. Sem a vegetação, a chuva arrasta os sedimentos da superfície para a parte baixa da cidade, assoreando canais de drenagem e causando enchentes e deslizamentos.

"O projeto no Morro da Formiga é um dos mais antigos da Prefeitura, começou em 1997. Como a comunidade está em área de risco devido à declividade alta, no passado houve muitos deslizamentos, mas posteriormente reduziram-se significativamente essas ocorrências", explica Marcelo Hudson, gerente de conservação da SMAC.

== Novas frentes ==

Desde 2010, a Prefeitura trabalha em uma nova fase do programa, chamada Rio Capital Verde, que prevê levar o Mutirão para novas frentes e recuperar outras áreas de difícil acesso com a contratação de empresas especializadas.

A meta é reflorestar 1.300 hectares com o plantio de 4 milhões de sementes até 2016. Espera-se que o replantio ajude a cidade a reduzir suas emissões e renda créditos de carbono para financiar projetos similares.

"O projeto carbono atende áreas reflorestadas por empresas, pois são de difícil acesso. Para isso (as autoridades municipais) vão usar créditos de carbono para custear o replantio onde não puderem fazê-lo com o Mutirão", explica Franka Braun, especialista da Unidade de Financiamento de Carbono do Banco Mundial, que trabalha com a prefeitura no Programa de Desenvolvimento de Baixo Carbono da cidade.

"Já temos o documento técnico do projeto de créditos e no próximo mês faremos a validação, que consiste em estabelecer uma amostra de parcelas (do terreno), onde serão feitas medições (nr: de absorção de CO2 por hectare). A área que vai render créditos tem uns 900 hectares" espalhados pela cidade, explica Braun.

"Estimamos que nessa área 50 mil toneladas de carbono tenham sido capturadas nos últimos três anos", continua Braun.

Além de ar limpo e encostas estáveis, o reflorestamento dá a cariocas e turistas novas áreas de lazer.

"Aqui na Formiga abrimos uma trilha que vai até a cachoeira. Já tem até turista que vem conhecer o local. Tem sábado que fica cheio aqui. Semana passada, fizemos uma caminhada ecológica. Vieram umas 30 crianças da comunidade. Eu fui andando com elas e explicando a importância do reflorestamento, que melhora a qualidade de vida de toda a cidade", conta Djair.

Para ele, a floresta representa esperança. "Posso até sair do Morro da Formiga, mas não por minha vontade. Quero continuar nisso aqui até quando Deus quiser", afirma.


Por VITORIA VELEZ (AFP)
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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Incra promete reduzir desmatamento em assentamentos

Tendo como contrapartida a anulação de 7 processos por danos ambientais, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) assinou acordo com o Ministério Público Federal (MPF) se comprometendo a reduzir em 80% os desmatamentos ocorridos em assentamentos para a Reforma Agrária até 2020, levando em conta os índices verificados em 2005. O termo foi assinado na tarde desta quinta-feira (08/08).


Pesquisa do Imazon em 2006 já havia identificado o tamanho expressivo do desmatamento em assentamentos. Em 2012, o Grupo de Trabalho da Amazônia Legal, que reúne procuradores da República de toda a região da Amazônia, pediu a atualização dos números, agora também com base nos dados do INPE: Os números confirmaram que o Incra é um dos maiores desmatadores.

Do total de 2.163 assentamentos na região amazônica, foram desmatados 133.644 km². O desmatamento anual pulou de 18% em 2004 para 31,1% em 2010. Em junho de 2012, o Ministério Público Federal propôs ações na Justiça Federal em seis Estados - Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima.

As principais causas do desmatamento nos assentamentos é a ausência de licenciamento ambiental e de Cadastro Ambiental Rural, por isso o acordo firmado hoje prevê a adoção de medidas de adequação ao Código Florestal e de recuperação da área degradada. Leia o termo de compromisso na integra aqui.

“Além de reduzir o desmatamento, é importante ressaltar que o acordo também visa a fortalecer a reforma agrária no país. Um dos compromissos do Incra é justamente o de oferecer assistência técnica qualificada ao assentado para que ele produza melhor e tenha condição digna de vida, sem necessidade de efetuar exploração predatória”, afirmou o procurador da República Daniel Azeredo, coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Amazônia Legal.


Participaram da cerimônia de assinatura do termo de compromisso o coordenador da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, subprocurador-geral da República Mario Gisi; o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Aurélio Veiga Rios; o presidente do Incra, Carlos Mário Guedes de Guedes; o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas; e os procuradores da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, Daniel César Azeredo Avelino, Felipe Bogado, Guilherme Rocha Gopfert, Leonardo Andrade Macedo, Márcia Zollinger, Rafael da Silva Rocha, Raphael Luis Pereira Bevilaqua e Rodrigo Timoteo da Costa e Silva.

Fonte: O Eco