domingo, 21 de dezembro de 2014

A saída da crise é salvar a Mata Atlântica

Enquanto a Amazônia brasileira chama a atenção do mundo, com seu corte raso já tendo atingido cerca de 19% da floresta original, grande parte da população de nosso país ignora ou nada faz para acabar com seu próprio prejuízo pela devastação da Mata Atlântica, que já alcança mais de 87% de seu domínio desde o Descobrimento do Brasil e é um dos principais fatores da crise hídrica e energética que prejudica a região Sudeste.

O desmatamento da Amazônia alcançou uma área equivalente à metade do Estado do Amazonas. Metade desse estrago aconteceu nos últimos 25 anos. O ritmo dessa devastação teve uma significativa redução desde 2006, mas antes que restem menos de 80% da floresta na região é urgente diminuir ainda mais as taxas anuais de desmatamento.


Reservatório Atibainha, do sistema Cantareira, em área de mata Atlântica em Atibaia (SP). Imagem: Maurício Tuffani/Fohapress/28.out.2014

No outro lado do país, na mata Atlântica, as proporções se invertem. Ao contrário da Amazônia, onde a preservação é maior que a devastação, na grande floresta tropical que se estendia por 131 milhões de hectares do Rio Grande do Sul ao Piauí e do litoral ao Centro-Oeste, resta hoje apenas cerca de 16,5 milhões de hectares, ou seja, pouco mais de 12%.

Se não cuidarmos desses poucos remanescentes e não recuperarmos grande parte do que foi desmatado, nunca conseguiremos nos livrar da crise hídrica.

Conservar e recuperar

No final do século 20, quando a conservação da biodiversidade já era considerada importante, a Conservation International e outras entidades tentaram chamar a atenção para o fato de que a mata Atlântica e o Cerrado eram hotspots, ou seja, biomas de altíssima diversidade biológica, mas gravemente ameaçados pela devastação.

Além da necessidade de deter a devastação, como na Amazônia, na mata Atlântica é cada vez mais urgente promover a recuperação de grande parte das áreas degradada. Somente agora, com a crise hídrica e energética que assola a região Sudeste, começou a se compreender essa urgência, especialmente para as áreas das bacias hidrográficas, como a dos rios Piracicaba, Jundiaí e Capivari, onde está o sistema Cantareira e outros que abastecem a região de maior concentração populacional do Estado de São Paulo.

Devastação prossegue

Apesar disso, além de a recuperação de áreas degradadas de mata Atlântica ainda estar engatinhando, o desmatamento segue em ritmo intenso em algumas cidades de Estados como Piauí, Minas Gerais e Bahia, segundo o monitoramento realizado desde 1986 pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Duas cidades do Piauí tiveram as “medalhas de ouro e de prata” no ranking das maiores desmatadoras brasileiras da mata Atlântica de 2012 a 2013. Manoel Emídio foi a campeã, com 3.134 hectares, ou seja, 13% do total de 24,7 mil hectares de desmatamento nesse biênio. Alvorada do Gurguéia, a segunda colocada, teve 2.491 hectares devastados, o correspondente a 10% do total desmatado no bioma no mesmo período.

O “Atlas dos Municípios da Mata Atlântica” aponta cinco desses dez municípios em Minas Gerais, Estado que liderou o ranking nacional do desmatamento por cinco anos consecutivos. A devastação acumulada desde 2000 por algumas dessas cidades apresenta números ainda mais assustadores.

Cinco séculos

A mata Atlântica foi o bioma mais devastado de nosso país por ter sido o principal cenário da história do Brasil em seus primeiros séculos. Foi no domínio original dessa floresta que se implantou o modelo predatório da agricultura colonial. Adotado pelos colonizadores portugueses sem a menor preocupação com a aplicação de conhecimentos de proteção dos solos, esse modelo de agricultura deixou perplexos os imigrantes europeus que chegaram a partir do final do século 19.

Essa cultura baseada na relação inconsequente com o uso da terra, que já havia sido  dissecada por Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) em seu clássico “Raízes do Brasil”, de 1936, foi mais tarde retomada no livro “A Ferro e Fogo: A história e a devastação da mata Atlântica brasileira”, de Warren Dean (1932-1994). Nas palavras desse brazilianist,

“Durante quinhentos anos, a Mata Atlântica propiciou lucros fáceis: papagaios, corantes, escravos, ouro, ipecacuanha, orquídeas e madeira para o proveito de seus senhores coloniais e, queimada e devastada, uma camada imensamente fértil de cinzas que possibilitava uma agricultura passiva, imprudente e insustentável. A população crescia cada vez mais, o capital ‘se acumulava’, enquanto as florestas desapareciam.” (“A Ferro e Fogo”, Companhia das Letras, 1996, pág. 380)

Alerta

Tive o prazer de conhecer pessoalmente Dean em 1992 na biblioteca do Instituto Florestal de São Paulo, quando ele ainda estava pesquisando para essa obra, publicada postumamente em 1995. Influenciado não só pela magnitude da devastação, mas também  pela irracionalidade predatória de nossa história e pela descrição de Sérgio Buarque de Holanda sobre nosso caráter nacional, Dean era profundamente descrente da possibilidade de implantar modelos sustentáveis de agricultura na mata Atlântica.

Sob essa perspectiva pessimista, ele finalizou seu livro mostrando que nada mais restava a essa floresta senão servir de alerta para a Amazônia:

“O último serviço que a mata Atlântica pode prestar, de modo trágico e desesperado, é demonstrar todas as terríveis consequências da destruição de seu imenso vizinho do oeste.”

Crise hídrica

Na verdade, Dean, que mal teve tempo para testemunhar projetos sustentáveis nessa floresta, com essa frase de efeito subestimou suas próprias constatações sobre a importância dos remanescentes da mata Atlântica para a integridade das bacias hidrográficas.

Entre outros estudiosos, uma das fontes do brazilianist, Paulo Nogueira Neto, secretário especial do Meio Ambiente do governo federal de 1974 a 1986,  já havia alertado para a desastrosa obsolescência de nossos sistemas de abastecimento de água, programada imprevidentemente pelos desmatamentos e pela falta de recuperação de áreas degradadas.

Hoje a crise hídrica e energética que assola a região Sudeste não nos deixa alternativas que não incluam a salvação de nossos mananciais. Foi um dos pontos que ressaltou há poucos dias a Academia Brasileira de Ciências ao endossar um manifesto de 15 pesquisadores que alertaram para estiagens cada vez mais extremas devidas a “fortíssimos os indícios de que há uma mudança climática em curso”

Mesmo que venha a chover o necessário para evitar uma catástrofe, ainda que passemos a usar água de modo consciente e por mais que os governos construam os sistemas de abastecimento que já deveriam estar prontos, nunca mais teremos segurança hídrica se não pararmos a devastação de nossa cobertura vegetal nativa e se não recuperarmos grande parte das áreas florestais degradadas, principalmente nas bacias hidrográficas.

Nunca estaremos livres dessa crise sem salvar a mata Atlântica.

Por Maurício Tuffani
Fonte: Folha de S. Paulo

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Cúpula climática em Paris terá mais dificuldades após acordo modesto em Lima

LIMA (Reuters) - A cúpula do clima de Paris em 2015 terá uma missão mais difícil para obter um acordo da ONU para desacelerar as mudanças climáticas, depois que as esperanças de que um acordo entre Estados Unidos e China fosse uma chave mágica para destravar um impasse global se dissolveram nas conversas preparatórias em Lima.



No melhor dos casos, Paris pode ser uma chance para reformar um sistema de conversas anuais da ONU --mais de 11 mil delegados compareceram às conversas de dois dias em Lima-- e descobrir maneiras de impulsionar ações de longo prazo para conter as crescentes emissões de gases-estufa.

Mas o impulso político do acordo EUA-China deu lugar às familiares divisões e “linhas vermelhas” que rotineiramente empacam as conversas, especialmente sobre a questão da diferenciação das responsabilidades dos países riscos e pobres.

“O anúncio EUA-China indicou uma mudança fundamental em colocar países desenvolvidos e em desenvolvimento em um patamar mais igual. Não é surpresa que, em Lima, um monte de países em desenvolvimento resistiram”, disse Elliot Diringer, do Centro para Mudanças Climáticas e Soluções em Energia.

A Organização das Nações Unidas diz que já está claro que as promessas para reduções de emissões em uma cúpula de Paris, que acontecerá em dezembro de 2015, serão muito fracas para avançar para a meta da ONU de limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. 

“Teremos muito trabalho a fazer”, disse o ministro francês do Exterior, Laurent Fabius, sobre o desafio de Paris.

Mesmo assim, 2015 ainda carrega uma esperança de reformas para que o sistema da ONU tenha maior controle sobre políticas de emissões de gases-estufa, que são culpados por ondas de calor, inundações, secas e aumento dos níveis do mar.

Paris pode marcar uma mudança de rumo das duas décadas de diplomacia climática em direção a um sistema mais tecnocrático, que permitiria que compromissos nacionais para ações climáticas fossem comparados e fortalecidos nos próximos anos.

Yvo de Boer, um ex-chefe da ONU para questões climáticas, disse que um problema era que negociadores da ONU não tinham autoridade. “Se os líderes do Grupo dos 20 se reunissem e dissessem ‘vamos fazer isso’, toda essa conversa acabaria em 30 minutos”, disse ele à Reuters.

De Boer, que agora lidera o Instituto Global de Crescimento Verde, que ajuda países em desenvolvimento, notou que as conversas climáticas anuais cresceram muito desde que 1.000 delegados se reuniram pela primeira vez em 1994.

“Paris pode ser uma oportunidade para mudar isso, se forem identificados pontos que precisam ser completados. Isso pode ser transformado em um processo técnico, e não político”, disse.

Até agora, no entanto, os sinais não são tão bons.

Os textos concordados em Lima vão obrigar governos a fornecerem apenas alguns vagos planos para limitar emissões de gases-estufa, após a China ter negado um esforço da União Europeia por relatos detalhados dos planos.

Assim, o resultado das conversas de Lima, que atraíram desde ministros de países da Opep até veganos vestidos como frangos, significa que um acordo em Paris deve ser um mero remendo das ofertas nacionais para conter as emissões.

Por Alister Doyle e Valerie Volcovici
Fonte: Reuters

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O que é um Ecossistema e um Bioma?

Quando se fala em ecossistemas e biomas, tratamos de conjuntos. Embora distintos nos seus elementos e abrangência, podem se sobrepor, interceder e se completar.

Um ecossistema é um conjunto formado pelas interações entre componentes bióticos, como os organismos vivos: plantas, animais e micróbios, e os componentes abióticos, elementos químicos e físicos, como o ar, a água, o solo e minerais. Estes componentes interagem através das transferências de energia dos organismos vivos entre si e entre estes e os demais elementos de seu ambiente.


Como são definidos pela rede de interações entre organismos, e entre os organismos e seu ambiente, ecossistemas podem ter qualquer tamanho. Como é difícil determinar os limites de um ecossistema, convenciona-se adotar distinções para a compreensão e possibilidade de investigação científica. Assim, temos, inicialmente, uma separação entre os meios aquáticos e terrestres. Então, ecossistemas aquáticos serão os lagos, naturais ou artificiais (represas), os mangues, os rios, mares e oceanos. Os ecossistemas terrestres serão as florestas, as dunas, os desertos, as tundras, as montanhas, as pradarias e pastagens.

O bioma, na definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o "conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica própria". Em outras palavras, ele pode ser definido como uma grande área de vida formada por um complexo de ecossistemas com características homogêneas.

Muitas vezes, o termo "bioma" é utilizado como sinônimo de "ecossistema" mas, diferente do ecossistema, à classificação de bioma interessa mais o meio físico (a fisionomia da área, principalmente da vegetação) que as interações que nele ocorrem. O perfil do local e a dimensão também importam na classificação: um ecossistema qualquer só será considerado um bioma se suas dimensões forem de grande escala.

Por exemplo, existe o bioma da Mata Atlântica e, dentro dele, ecossistemas como a floresta ombrófila densa, a mata de araucária, os campos de altitude, a restinga e os manguezais.

Um bioma é definido por um tipo principal de vegetação (embora num mesmo bioma possam existir diversos tipos de vegetação) e também de animais típicos, embora estes não influam tanto na definição. Os biomas brasileiros são a Amazônia, o Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, o Pampa e o Pantanal.

Fonte: O Eco

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O impacto da urbanização na biodiversidade

Até 2050, estima-se que 6,3 bilhões de pessoas viverão nas cidades em todo o mundo, número que representa um aumento de 3,5 bilhões em relação aos dados de 2010.

Este é considerado o maior e mais rápido período de expansão urbana da história da humanidade, segundo considerações do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, no prefácio do livro “Panorama da Biodiversidade nas Cidades – Ações e Políticas – Avaliação global das conexões entre urbanização, biodiversidade e serviços ecossistêmicos” (clique para baixar em pdf), que acaba de ser publicado em português com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

De acordo com o titular da ONU, as novas demandas transformarão a maioria das paisagens, tanto as naturais quanto as edificadas. “O crescimento urbano terá impactos significativos sobre a biodiversidade, os habitats naturais e muitos serviços ecossistêmicos dos quais depende a nossa sociedade”, alerta Ban Ki-moon, enfatizando que os desafios da urbanização são profundos, mas também representam oportunidades.

Ocorre que as cidades, segundo a própria ONU, têm um grande potencial de gerar inovações e instrumentos de governança e, portanto, podem “e devem” assumir a liderança no desenvolvimento sustentável.

Olho no futuro – Os textos do livro de 70 páginas trazem uma avaliação global dos vínculos entre a urbanização, a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, elaborados por mais de 75 cientistas e formuladores de políticas de diversas partes do mundo.

A publicação sintetiza como a urbanização afeta a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, além de apresentar as melhores práticas e lições aprendidas, com informações sobre como incorporar os temas da biodiversidade e serviços ecossistêmicos às agendas e políticas urbanas.

Para o secretário-executivo da CDB, Bráulio de Souza Dias, entre os principais objetivos do “Panorama da Biodiversidade nas Cidades – Ações e Políticas” está o de servir como a primeira síntese global de pesquisas científicas sobre como a urbanização afeta a biodiversidade e a dinâmica ecossistêmica.

O livro apresenta uma visão geral, com análise e resposta a lacunas de conhecimento em nossa compreensão sobre processos de urbanização e seus efeitos sobre os sistemas socioambientais e aborda abordar maneiras como a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos podem ser geridos e restaurados de formas inovadoras para reduzir a vulnerabilidade das cidades à mudança do clima e outras perturbações.

Ainda segundo Souza Dias, o conteúdo serve como referência para os tomadores de decisões e formuladores de políticas, no que tange aos papéis complementares de autoridades nacionais, subnacionais e locais na preservação da biodiversidade. “Nosso mundo está cada vez mais urbano e as cidades, seus habitantes e governos, podem, e devem, assumir a liderança na promoção de uma gestão mais sustentável dos recursos vivos do nosso planeta”, explica.

O subsecretário geral da ONU e diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, avalia que as cidades abrigam um celeiro de inovações e novas ideias, além de exercerem um papel essencial na conservação da biodiversidade, “proporcionando oportunidades excelentes para fazermos a transição para uma economia verde inclusiva no mundo em desenvolvimento e desenvolvido”. 

Fonte: MMA

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Medição inédita confirma montanha mais alta da Serra do Mar

As duas montanhas mais altas da Serra do Mar – cadeia do relevo brasileiro que vai de Santa Catarina ao Rio de Janeiro – estão localizadas em Nova Friburgo, na região serrana do Rio. Novas medições feitas recentemente pelo doutor em geociências, Antonio Paulo Faria confirmaram que os dois cumes mais altos são o Pico Maior e o Pico do Caledônia, ambos localizados no município serrano. Concluído há duas semanas, o trabalho foi feito em parceria com a UFRJ e o IBGE.

Pico Maior de Friburgo (2.366m) - Ponto culminante da Serra do Mar
O projeto de medição utilizou a metodologia da Geodesia do IBGE e contou com um sofisticado equipamento: o DGPS, um GPS diferencial de alta precisão. Antonio Paulo explica que as medições foram feitas ao longo de nove horas – divididas em três períodos de três horas. Em seguida, os dados foram analisados e homologados pelo IBGE. “Medimos a altitude do Pico Maior de Friburgo (2.366 m), antes homologada no IBGE com altitude estimada em 2.315 metros. O Pico do Caledônia tinha 2.219 m e agora passou para 2.257 (+ 38 m). A Pedra do Sino, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Teresópolis, tinha altitude de 2.275 m e agora ficou com 2.255 m (-20 metros)”, detalha o pesquisador.

Uma das etapas mais difíceis do projeto foi a medição do cume Pico Maior, localizado no Parque Estadual de Três Picos, popularmente conhecido como Salinas. “Essa é uma montanha isolada, sem acesso por trilhas de caminhada e nunca foi medida pela metodologia do IBGE. Foi preciso escalá-la pela Via Leste, que é uma via de escalada de quinto grau, com 700 metros de altura. Aberta em 1974 é uma das mais clássicas do Brasil”, explica Antonio Paulo, que também é montanhista e considera Três Picos a terra da escalada tradicional do Brasil.

A principal motivação para a realização do projeto, segundo o pesquisador, foi a atualização das medições das montanhas mais altas que compõem a Serra do Mar. “Esse é o alinhamento mais importante do Brasil em termos geográficos, com 1.500 quilômetros de extensão. Os dados anteriores são todos da década de 1960 e havia erros grandes. As novas medições são úteis para atualização dos mapas cartográficos, para a aviação e a prática do montanhismo”, ressalta Antonio Paulo. 

Fonte: Terra

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Pagamento por Serviços Ambientais - PSA

Por Marina Grossi

No Brasil de hoje, as atenções começam a ficar cada vez mais voltadas para o PSA, sigla de Pagamento por Serviços Ambientais. Ainda que em caráter pontual, a preocupação com a oferta de recursos naturais ganha importância, especialmente quando eventos como a seca que afeta hoje o Sistema Cantareira, em São Paulo, e ameaça o Sistema Guandu, no Rio de Janeiro,  ganham destaque e expõem o risco e a vulnerabilidade da nossa sociedade perante os serviços providos pela natureza.


Apesar de não contarmos com uma regulamentação nacional sobre PSA, várias iniciativas já foram lançadas. É o caso do Programa Produtor de Água, da Agência Nacional de Águas (ANA). Este programa trabalha com oito projetos em diversos estados brasileiros, visando proteger e restaurar a vegetação no entorno de nascentes e mananciais, para garantir a manutenção e/ou a recuperação da disponibilidade e da qualidade da água.

Cuidar da cabeceira dos rios e preservar mananciais vão além de uma preocupação com o meio ambiente. É também uma questão financeira. O custo do tratamento de água, em dólar/milhões de galões, varia conforme a porcentagem de cobertura florestal de uma bacia hidrográfica, podendo passar de 115 dólares para uma bacia com 10% de cobertura vegetal a 37 dólares para uma bacia com 60% de cobertura. Esta redução significativa de valor foi aferida de acordo com modelo apresentado pelo The Trust for Public Land and American Water Works Association (2004) e apresentado na plataforma Action 2020, iniciativa do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD).

Hoje, a grande maioria dos casos de PSA desenvolvidos no país envolve a participação direta dos governos e é viabilizada por meio de Bolsas Verdes e ICMS Ecológico. O principal entrave para engajar o setor privado nessas ações passa pela segurança jurídica, na determinação de metodologias e modelos de contratos e, ainda, pela dificuldade de valoração dos ativos ambientais. A segurança jurídica depende do estabelecimento de um marco regulatório nacional, que dê também suporte às iniciativas regulatórias estaduais existentes.

Atualmente, existem diversas iniciativas para a criação de uma política sobre PSA. A mais avançada tramita no Congresso desde 2007: o Projeto de Lei nº 792/07 que estabelece a “Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais”.

Diante do interesse de engajar o setor empresarial e a necessidade de um posicionamento oficial sobre marcos regulatórios, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) acaba de lançar uma publicação sobre o tema, em que destaca os seguintes pontos: a criação de demanda por serviços ambientais; a indicação das áreas prioritárias para investimento e de metodologias padronizadas para os projetos; e o incentivo a investimentos voluntários para a conservação de serviços ambientais, com adequação da cadeia de valor e a exigência de adicionalidade das empresas, ou seja, que os investimentos não sejam aqueles já previstos em processos de licenciamento e nas tecnologias ambientais que já se integram ao negócio.

Além desse posicionamento, o tema PSA foi inserido como uma das propostas do documento Agenda CEBDS Por um País Sustentável, construída em parceria com os presidentes das empresas associadas e endereçada aos presidenciáveis. O tema está inserido no documento com a proposta de número 6: “Regular e incentivar o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), a partir de projetos apresentados pela iniciativa privada, por meio de incentivos fiscais”. Uma das possibilidades para essa regulação é por meio de dedução de impostos devidos, no padrão bem sucedido da Lei Rouanet.

Espera-se que essas ações permitam futuramente que o setor privado identifique dependências, impactos, riscos e oportunidades no uso dos recursos naturais, desenvolvendo um mercado onde empresas, produtores rurais e outros agentes invistam em conservação e venda de serviços ambientais. Os ganhos obtidos permitirão o surgimento de uma nova linha de negócios: a de provedor de serviços ambientais. Esse novo mercado vai atuar na prevenção/minimização de eventos extremos como secas, inundações, perda de solos, desabamentos de encostas, entre outros.


Marina Grossi é presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)

Fonte: Revista Época

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Ecocongestionamentos e o Bolsa Trânsito das montadoras

No primeiro evento público da indústria automotiva após a reeleição de Dilma Rousseff (PT) na Presidência da República, os presidentes das principais montadoras fizeram cobranças públicas para que o governo federal mantenha as taxas de descontos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor em 2015, e ainda tome novas medidas para incentivar mais o consumo de carros. Entre as propostas defendidas para tentar manter em alta a produção e comercialização está a concessão de créditos para aquisição de veículos novos. As declarações foram feitas durante coletivas de imprensa na apresentação de lançamentos no Salão do Automóvel, aberto para o público a partir desta quarta-feira, dia 30.

Em meio a congestionamentos cada vez mais intensos, o pacote de benefícios defendido pelas montadoras têm recebido críticas em redes sociais e já foi chamado até de Bolsa Trânsito. O impacto no meio ambiente urbano do aumento da frota preocupa em um contexto de piora da qualidade do ar nas metrópoles brasileiras.

Tempo seco e emissões constantes têm tornado o ar de São Paulo irrespirável.

Em São Paulo, de acordo com o recém-divulgado Relatório de Emissões Veiculares de 2013, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), o padrão estadual de qualidade do ar para ozônio foi ultrapassado em 13 dias em 2013 e, mesmo com inovações tecnológicas e renovação da frota, as emissões seguem altas. Entre os principais problemas, está a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), que tem aumentado de forma sistemática. "Ainda que os fatores de emissão dos veículos novos estejam decrescendo, o aumento da frota de veículos e os congestionamentos das vias comprometem os ganhos obtidos com os avanços tecnológicos", diz o documento.

Não é a primeira vez que os empresários se articulam para prolongar descontos de impostos. Em junho, os representantes do setor pressionaram e conseguiram adiar para o fim do ano o aumento gradual de taxas de IPI, inicialmente previsto para 1º de julho. A discussão é complexa porque, fazem parte da política de redução de IPI condicionantes para modernizar a produção de modo a melhorar a eficiência energética dos novos veículos, o que ajuda a reduzir a poluição (clique aqui para ler todas as leis e decretos que regulamentam o desconto de IPI).

"Pacote de bondades"

Para a engenheira Carmen Silvia Câmara Araújo, diretora administrativa do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), o governo deveria considerar alternativas em vez de ampliar benefícios para as montadoras. "No lugar de um novo pacote de bondades para o setor, seria interessante pensar em alguma política de incentivo ao transporte público, por exemplo, algo para melhorar a mobilidade. Mesmo se for para pensar na questão econômica é possível seguir essa linha. As montadoras fazem ônibus, não fazem?", questiona.

Ela participou das discussões que resultaram no Inovar-Auto, como é chamado o programa que condiciona redução de IPI a inovações tecnológicas, e apesar de ser crítica à ampliação de benefícios para montadoras, destaca a importância das condicionantes de inovação tecnológica já adotadas. O aumento da eficiência dos motores novos foi o que garantiu que as emissões não disparassem no mesmo ritmo do aumento da frota. O relatório da Cetesb aponta o quanto a frota circulante aumentou em São Paulo, e indica que, se o número de emissões não aumentou por um lado (com exceção das emissões de Gases de Efeito Estufa, que dispararam), por outro motos e automóveis ainda têm papel preponderante na emissão de alguns poluentes, conforme é possível observar nos gráficos abaixo.

Tabelas do Relatório de Emissões Veiculares da Cetesb (clique na imagem para ampliar)

Ecocongestionamentos

A compra e venda de automóveis não é vista necessariamente como um problema. "O fato de uma pessoa comprar um carro não quer dizer que ela vai usar todo dia. Ela pode deixar o automóvel na garagem e continuar usando o transporte coletivo", lembra Carmen. O Iema realizou em setembro o Seminário Internacional de Desestímulo ao Uso do Automóvel e tem investido no debate sobre mobilidade urbana. Hoje, quem cuida do tema na organização é Renato Boareto, ex-diretor de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades e defensor de que, mais do que pensar em reduzir as emissões com avanços tecnológicos, é preciso uma mudança no atual padrão de mobilidade, priorizando o transporte coletivo.

frotanacionalTabela do Inventário Nacional de Emissões organizado pelo IemaAssim como em São Paulo, a frota tem crescido significativamente em outras cidades, conforme o Inventário Nacional de Emissões organizado pelo Iema. "Ter um carro para viajar, para usar no final de semana não é problema nenhum. O crescimento da frota ocorre em todos os países que passaram por um crescimento de renda, isso é inevitável. Mas uma cidade não pode ser pensada para recepcionar essa frota crescente e proporcionar condições para que todos circulem ao mesmo tempo. O foco tem que ser no transporte que garante o deslocamento de um número maior de pessoas. É fundamental pensar em incentivos ao transporte público e não motorizado", defende, citando a implementação de corredores exclusivos de ônibus e restrições a estacionamento privado em espaços públicos como exemplos de medidas necessárias.

"É óbvio que produzir veículos mais limpos é importante, mas se o governo federal tem condições de alocar mais recursos públicos, que seja para investir em transporte público mais limpo", completa, lembrando que um ônibus usa menos energia para transportar pessoas do que veículos individuais. "Mesmo com o desenvolvimento de carros mais limpos, mesmo se tivermos carros hibridos e elétricos, ainda assim teremos problemas se não houver mudanças no padrão de mobilidade. Brevemente estaremos no que chamamos de ecocongestionamento, um trânsito igualmente parado, só que com carros mais limpos", afirma. "E aí cabem outros questionamentos. De onde vai vir a energia elétrica para abastecer esse congestionamento? E se for de uma termoelétrica? O transporte público é mais eficiente no uso de energia e todos ganham", afirma.

secoesujoTermômetro com propaganda do Salão do Automóvel indica que a qualidade do ar não é boa em São Paulo nesta quarta-feira, dia 30. Foto: Daniel SantiniAr sujo
Em linhas gerais, o monitoramento da qualidade do ar nas principais metrópoles do país ainda é deficiente, o que dificulta o monitoramento dos índices. Em São Paulo, a falta de chuvas na capital e o tempo seco tem agravado a poluição, e nas últimas semanas os termômetros da capital monitoram a qualidade do ar têm apresentado índices alarmantes. O ar sujo afeta principalmente crianças e idosos. "Nesses períodos de mais secura do ar os atendimentos por urgência aumentam significativamente", explica o pneumologista pediátrico Luiz Vicente Ribeiro Ferreira da Silva Filho o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas. "A exposição a poluentes interfere significativamente na saúde das crianças".

Questionado sobre o pedido por parte das montadoras de mais investimentos para a produção e venda de automóveis, ele lembra que a questão é complexa. "A conjuntura precisa ser vista como um todo e o tema envolve outras questões. Se por um lado o aumento da frota é ruim para o ambiente, por outro lado pode ter um impacto na economia importante, é preciso considerar isso na análise", afirma.


"É lógico que com mais carros na rua, mais poluição. Em termos de saúde, seria melhor o transporte público, medidas para que a gente tenha menos veículos na rua, medidas que estimulem uso da bicicleta e caminhadas contra medidas que estimulem a venda e aumento da frota particular".

Fonte: O Eco

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Economia verde requer mudança no consumidor, avaliam líderes do 3GF

A construção de uma economia verde só será possível quando houver mudança no modelo de produção adotado pela maioria das nações e no comportamento do consumidor de classe média. Essa foi a conclusão tirada da quarta edição do Fórum Global de Crescimento Sustentável (3GF), que reuniu cerca de 300 líderes de seis países na segunda e terça-feira (21), em Copenhague, na Dinamarca.

No último dia de evento, a primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning Schmidt, disse que “a construção de economias verdes não é uma tarefa fácil, e que as nações precisam trabalhar juntas”. Garantir essa conexão, disse ela, é o que o fórum buscou fazer.

Governos de países desenvolvidos e em desenvolvimento, empresários, instituições financeiras e organizações da sociedade civil se debruçaram sobre os principais desafios para a construção de uma economia verde. Copenhague, a cidade mais sustentável do mundo, serviu de inspiração para dois dias de debates, plenárias, rodadas de conversa e negociação, que resultaram em onze parcerias a serem aplicadas em diversas partes do mundo.

Na última plenária do evento, houve consenso de que o modelo econômico atual, centrado na produtividade a todo custo, precisa ser mudado. O ex-presidente do México e atual chefe da Comissão Global de Economia e Clima, Felipe Calderón, disse que quatro medidas precisam ser adotadas com urgência pelas nações: a redução na emissão de gases de efeito estufa, a busca de eficiência energética na indústria, o controle da urbanização e a proteção dos recursos naturais. “Não é uma alternativa, é algo que precisa ser feito imediatamente”, disse. A boa notícia, segundo ele, é que é possível garantir crescimento econômico e, ao mesmo tempo, frear as mudanças climáticas, mas “para isso, grandes mudanças precisam ser feitas”.

O comportamento do consumidor, especialmente o de classe média, foi alvo de preocupação no fórum. A ministra de Meio Ambiente do Quênia, Alice Kaudia, enfatizou que o crescimento da classe média e o aumento do consumo são tendências preocupantes. Ela disse que, “se o comportamento das pessoas não mudar, se elas não começarem a pensar em reaproveitamento, em uso racional e em reciclagem, em pouco tempo não vai haver recursos suficientes para todos”. O presidente do Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, Peter Bakker, ressaltou que, se quiserem garantir um mundo melhor para as futuras gerações, as pessoas terão que reconsiderar alguns hábitos comuns. “Ter um carro é mesmo a melhor opção? Ou dividir um carro é um modelo melhor? Os conceitos de propriedade, de compartilhamento, de viver bem, de felicidade, todos terão que ser reconsiderados”, ressaltou.



Criado em 2011, o Fórum Global de Crescimento Sustentável conta com a parceria de seis governos: Dinamarca, China, México, Etiópia, Quênia e Catar. Grandes empresas multinacionais, como Hyundai, Samsung e Siemens também são parceiras, além de organizações internacionais, como a Agência Internacional de Energia (IEA, da sigla em inglês), o Pacto Global das Nações Unidas e a Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial (IFC, da sigla em inglês).


Com o encerramento do fórum, as atenções se voltam para o Conselho da União Europeia, que deve aprovar, na próxima quinta-feira (23), um pacote de medidas sobre clima e energia para os próximos 15 anos, com amplos efeitos sobre os governos dos 28 países-membros e sobre a indústria. Entre as metas estão a redução em 40% na emissão de gases de efeito estufa e o aumento da eficiência energética das empresas em no mínimo 30%. 

Fonte: Agência Brasil

domingo, 19 de outubro de 2014

Brasil é o 9º país mais atraente em energia renovável

O Brasil é o nono país mais atrativo para investimentos em energia renovável, é o que indica a nova edição do Renewable Energy Country Attractiveness Index, ranking da EY (nova marca da Ernst & Young) que analisa o mercado de fontes limpas em 40 países. Depois de subir ao top 10 pela primeira vez na última edição do levantamento trimestral, o Brasil conquista mais uma colocação.

China é a primeira colocada do ranking, seguida por Estados Unidos, Alemanha e Japão. Atualmente, o Brasil é o segundo colocado em atratividade hidrelétrica (principal matriz energética nacional), quarto em potencial para biomassa, sexto para energia eólica em terra e nono para energia solar.


Mário Lima, diretor de consultoria em sustentabilidade da EY, acredita que o governo brasileiro teve que mudar sua estratégia em relação à energia solar após a crise enfrentada com a geração hídrica, em razão da seca que castiga a região Sudeste há mais de dois anos. Os dois leilões de energia previstos para este ano ajudaram o Brasil a galgar a nona posição no ranking.

Em junho, o Brasil foi o primeiro país a sediar um jogo de Copa do Mundo alimentado exclusivamente por energia solar, no Mineirão. A expectativa, segundo análise da EY, é que o potencial da energia solar no Brasil, com incentivos governamentais, atraia mais investimento no setor. Em outubro será realizado o primeiro leilão exclusivo de energia solar, com expectativa de viabilizar até 10 GW de energia.

Segundo Lima, ainda é difícil investir no Brasil, pois existem barreiras burocráticas e imprevisibilidade na regulamentação. Apesar disso, empreendedores devem instalar usinas solares em parques eólicos existentes, para reduzir custos operacionais. “A tendência é que com os investimentos feitos pelo governo, o preço da energia solar caia pela metade em quatro ou cinco anos”, afirma. Lima ressalta que por permitir uma instalação mais rápida, a energia solar passou a ser vista como principal alternativa no Brasil.

A exigência elevada em porcentagem de conteúdo local para a concessão de financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é um grande obstáculo para o desenvolvimento da energia eólica. Esse e outros gargalos logísticos terão que ser resolvidos para acomodar a geração de 22.4GW esperadas até 2023, visto que atualmente o país dispõe de apenas 3.5GW de capacidade instalada.

Seguem os 20 primeiros colocados do ranking:

1. China

2. Estados Unidos

3. Alemanha

4. Japão

5. Canadá

6. Índia

7. Reino Unido

8. França

9. Brasil

10. Austrália

11. Coreia do Sul

12. Chile

13. Holanda

14. Bélgica

15. Itália

16. África do Sul

17. Dinamarca

18. Portugal

19. Turquia


20. Tailândia

Fonte: Ciclo Vivo

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Parceria: Refúgio Três Picos

O CECNA conta com a parceria do Refúgio Três Picos, que possui uma ótima estrutura para receber montanhistas e caminhantes da região e na qual funciona também a sede do Núcleo de Atividades Ambientais CECNA – Três Picos. Veja abaixo um relato, retirado do site www.trekkingbrasil.com, de um grupo de caminhantes que foi conhecer Três Picos e se hospedou no Refúgio.
Mapa de acesso ao Núcleo. Clique nele para ampliar. Se ainda estiver pequeno, baixe em formato PDF ou PNG 

Para se hospedar no Refúgio entre em contato pelo telefone: (22) 99836-7555 ou pelo email: jasmattos@hotmail.com. Visite também a página no Facebook: www.facebook.com/RefugioTresPicos


Três Picos – Nova Friburgo

Por Mario Nery

Três Picos é uma formação de montanhas localizada na região de Salinas, em Nova Friburgo – RJ. O local abriga um parque estadual, batizado de “Parque Estadual dos Três Picos” ou “PETP” como iremos nos referir a ele aqui neste texto.

É bom avisar uma coisa: você vai se apaixonar pelo lugar! Três Picos oferece inúmeras oportunidades de escaladas e trilhas. Além disso, é possível acampar no PETP ou mesmo ficar em algum dos refúgios que alugam espaços. Ficamos hospedados no Refúgio Três Picos (ou refúgio do Zezinho), uma casa de alvenaria com dois andares e espaço para umas 15/20 pessoas. Nosso grupo tinha 10 pessoas e não tivemos problemas com o espaço, o refúgio conta com camas e beliches no segundo andar, já no térreo ficam um banheiro com água quente e outro com água fria, uma cozinha básica com fogão, geladeira, mesa grande e pia – além de um fogão a lenha, sala, mais dois quartos (de casal) e a lareira.

Uma característica legal do refúgio do Zezinho, e que acontece também em outros pontos da região, é que ele produz uma ótima cerveja artesanal Pale Ale! Tivemos a oportunidade de experimentar uma e gostamos bastante. A produção do Zezinho ainda é pequena, porém você tem a opção de experimentar a Cerveja Artesanal Três Picos, feita no Refúgio das Águas pelo montanhista Sérgio Tartari – altamente recomendada, lá você vai encontrar um número maior de tipos de cerveja (quando fomos: Pale Ale, Red Ale, Weiss e Stout) além de uma pizza feita no forno à lenha.

Bem vamos voltar pro relato esportivo da trip e deixar o relato etílico de lado. A nossa programação estava separada em dois dias, seriam duas trilhas dentro do PETP: Cabeça do Dragão e a Caixa de Fósforo (essa última recomendada por alguns amigos).

Nestes dias eu fiquei em companhia de um grupo que sempre anda junto por aí, além de alguns novos amigos. O grupo era: Elias Maio, Fábio Fliess, Letícia Fliess, Luan Gesteira, Rafael Guerra, Lidiane Araújo, Renan Cavichi, Jeff Almeida e uma importação mineira, Gisele Halfeld (más línguas dizem que a contribuição dela com pães de queijo feitos na hora foi substancial...rsrsrs).

Galera em frente ao refúgio do Zezinho (ele está de blusa clara e bermuda ao lado da pilastra). Foto: Elias Maio.

Brincadeiras a parte – e não foram poucas – a sintonia do grupo funcionou muito bem como sempre. Chegamos na noite de sexta após nos encontrarmos na estrada com o Renan e o Jeff que estavam vindo de Caraguatatuba (SP). Uma parada estratégica no mercado para abastecermos os carros com comida, outra parada no restaurante da Linguiça do Padre pra comprarmos alguns petiscos, mais um pouco de estrada e logo depois estávamos estacionando os carros no refúgio do Zezinho. A boa da noite foi o mestre cuca Renan Cavichi fazendo um arroz de carreteiro pro jantar, momento raro sem diálogos no refúgio, só ouvíamos os talheres e os “hummmmmmm”. É, quando temos oportunidade nós comemos bem!

Três coisas não faltaram nesta trip: comida, cerveja e bom humor – ponto comum quando esse pessoal anda junto e tem alguma estrutura no lugar. Todos felizes com o jantar, hora de separar o material da mochila de ataque e dormir, no dia seguinte a programação era a trilha do Cabeça de Dragão com visita ao Refúgio do Sérgio Tartari no final do dia.

Buenas noches! E quem for dormir por último apaga a luz por favor!

Dia 01 – Trilha até o Cabeça do Dragão – PETP

Destaques: vista do alto da Cabeça do Dragão

Nível: semi pesado a pesado – trechos com subidas bem inclinadas e com exposição ao sol – principalmente o trecho entre o camping do parque e o cume da Cabeça do Dragão.

Dica: leve água, só existe água perto da área de camping, depois deste ponto (onde começa o toca pra cima) não tem fontes de água.

Imagem do Google Earth mostrando o tracklog da trilha do Cabeça do Dragão desde o Refúgio Três Picos até o cume.

A trilha não começa próximo do abrigo onde estávamos, então pegamos os carros e fomos até uma casa que serve de estacionamento e que fica próxima da estradinha que dá acesso ao Abrigo do Mascarin – o último abrigo antes da entrada do parque (a entrada fica ao lado do abrigo) – após este ponto a única opção é acampar no espaço do PETP, que fica bem perto da base do Capacete (montanha arredondada ao lado dos Três Picos), mas é um camping bem simples e rústico, com uma pia, um ou dois banheiros e chuveiros com água fria. A estrada acaba na porteira ao lado do Mascarin, deste ponto em diante o acesso para carros é proibido, e para chegar até o Mascarin a estradinha nem sempre está em bom estado, por isso não arriscamos a subida e deixamos os carros lá embaixo. Por acaso a estrada estava melhor do que o normal, mas mesmo assim um ou dois trechos iriam exigir mais habilidade do motorista para vencer os buracos, bem como um carro que suporte isso. Então na dúvida deixe o carro no estacionamento debaixo e suba até o Mascarin a pé.

Ao lado desta porteira do Mascarin fica a porteira que dá entrada no parque, daqui pra frente só a pé.

A área é conhecida como Vale dos Deuses, a explicação é simples, basta olhar em volta. A vista das montanhas é incrível.

Logo depois da porteira o caminho segue até chegar em outra porteira, que é parte de uma propriedade particular que serve de acesso aos Três Picos e demais pontos do local. Fizemos uma parada rápida para fotos com a vista dos Três Picos e as grandes araucárias do pasto e depois seguimos subindo. O caminho é bem marcado, na verdade é uma estradinha em alguns pontos. O caminho segue com o conjunto dos Três Picos/Capacete do seu lado esquerdo sempre.

Na trilha pouco depois da região do pasto – Foto: Renan Cavichi

Após algum tempo você chega na sede de montanhismo do parque, uma casinha que fica bem aos pés do Capacete, seguindo a trilha logo após este ponto você chegará a uma bifurcação (em frente ou para direita) a trilha do Cabeça de Dragão continua para direita – existe uma placa de madeira indicando a direção. Logo após entrar nesta bifurcação você encontra a área de camping do Parque Estadual dos Três Picos. A trilha para o Cabeça de Dragão segue atrás da casinha que fica na área de camping, atrás da casa, a direita dela.

Área de camping do Parque. Foto: Renan Cavichi

Agora é hora do toca pra cima começar, daqui em diante é subir e subir e subir mais um pouco. O Cabeça de Dragão tem 2082m de altitude. A trilha segue pela mata, bem definida e bem inclinada também, até chegar em uma região de lages de pedra sem vegetação alta, aqui você terá belas vistas dos Três Picos e Capacete, além de muito sol na cabeça – e será assim até o cume.

Vista dos Três Picos da lage de pedra da trilha da Cabeça do Dragão

Deste ponto em diante basta seguir pela crista subindo os trechos de rocha, alguns pontos da crista tem uma leve exposição – nada realmente perigoso, mas que vale ser citado por que pode incomodar os menos acostumados. A vista do cume é linda e recompensa o esforço feito na crista, como vocês podem ver nas fotos abaixo.

Subindo a crista da Cabeça do Dragão. Foto: Fabio Fliess

Panorâmica da vista do cume da Cabeça do Dragão

A volta acontece pelo mesmo caminho que foi usado na subida.

Fim da nossa programação de sábado, pelo menos da parte outdoor da programação. Agora era voltar, comer alguma coisa e se preparar para ir até o refúgio do Sérgio Tartari para experimentarmos a famosa Cerveja Artesanal Três Picos. Mas antes disso a rapaziada resolveu lagartear um pouco pelo refúgio do Zezinho, beber umas cervas e relaxar depois da trilha, tudo com acompanhamento do Luan no violão, com a galera cantando Pearl Jam, bebendo uma cervejinha e petiscando a famosa Linguiça do Padre com limão.

Roda de violão com o Luan tocando e a galera aproveitando pra relaxar com petiscos e cerveja.

Ok, vencida a preguiça, fomos até o Refúgio da Águas do Sérgio Tartari para experimentarmos a tão falada “Cerveja Artesanal Três Picos”, afinal de contas além de montanha e fotografia essa galera também gosta de uma boa cerveja.

Um brinde com o criador da cerveja é sempre especial, com Sérgio Tartari. Foto: Elias Maio

E a Pale Ale e a Weiss produzida com a água de Três Picos foi aprovada pelo pessoal e muitos levaram algumas garrafas pra casa. Bem como a Red Ale e a Stout degustadas em outras oportunidades. É possível se hospedar no refúgio e aproveitar as noites com pizza e cerveja artesanal gelada. Uma boa dica para quem busca um local mais tranquilo e com um astral de montanha.

Voltamos para onde estávamos hospedados e fomos ao jantar. Tivemos mais um jantar top de linha do Chef Renan, desta vez lentilhada – tinha lentilha pra um batalhão inteiro – mas nossa pequena unidade de montanhistas esfomeados fez um bom estrago nas provisões no jantar...rsrs

Arroz de Carreteiro, essa foi uma foto da primeira noite, um dos raros momentos onde o silêncio imperava neste refúgio. Foto: Elias Maio

Uma noite em frente da lareira do abrigo, com violão, algumas bebidas e muitas risadas… Então chegou a hora de cairmos nas camas e nos preparar para acordar cedo no domingo para a trilha até a Caixa de Fósforo.

Dia 02 – Chuva e nada de trilha…

Pra nossa falta de sorte o dia seguinte amanheceu com muita neblina, céu fechado e sinais de chuva durante a noite. Resumindo, nossa ida até a Caixa de Fósforo virou cinzas de vez quando a chuva caiu de manhã… Nos restou ficar mais um tempo batendo papo, curtindo o clima e a névoa que baixou no quintal.

Com certeza voltaremos até Três Picos para aproveitar algumas outras trilhas!

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Mario Nery é trekker, montanhista e mochileiro, pratica esportes outdoor desde 1990. Apaixonado por equipamentos, fotografia, cerveja e tecnologia. Formado em TI, atualmente trabalha na área mídias sociais/marketing digital. Siga o Trekking Brasil no Twitter: @trekking

Fonte: www.trekkingbrasil.com