quarta-feira, 22 de abril de 2015

Conservar o solo para preservar a água e reduzir a fome

A ONU declarou 2015 o Ano Internacional do Solo. O objetivo é reduzir o número de pessoas que ainda passam fome no mundo, visto que o aumento da erosão de solos reduz as terras férteis e, logo, a produção de alimentos. O elemento comum na degradação do solo é o aumento do seu uso para produção de alimentos ou urbanização.

O solo é um recurso essencial para a humanidade, porém visto como um recurso renovável, cuja degradação pode ser revertida rápido. Ao contrário, a formação dos solos é um processo lento,em escala de tempo geológica,durante a qual se formam os minerais e as rochas se desagregam.

O solo depende de fatores como clima e organismos -- a microflora e microfauna, vegetais, animais e o homem. Também é função do tipo de rocha que o originou e o relevo em que se encontra.

De acordo com os fatores de formação, o solo pode apresentar maior concentração de elementos orgânicos, de argila, de ferro, entre outros, o que caracterizará o tipo de atividade para o qual é propício. Por exemplo, para a construção de edificações o solo deve ser coeso, sem grande concentração de areia, um material que se esfarela. Já para a atividade agrícola, deve conter matéria orgânica e elementos essenciais para o crescimento das plantas.

Para a agricultura, sua fertilidade depende da presença de nutrientes específicos, tais como cloro, boro, zinco, manganês, níquel, cobalto, molibdênio, ferro, cobre, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, enxofre e magnésio.

Erosão em área agrícola na Estrada Capelinha, município de Itaperuna, Rio de Janeiro, 2008. Foto: Luana de Almeida Rangel

A FAO destaca que 33% dos solos mundiais estão degradados.

A atividade agrícola sem cuidados em áreas íngremespode prejudicar o solo, assim como a mecanização inadequadapode compactá-lo. O arado e a passagem de máquinas produzem erosão pela concentração de água da chuva em pequenos sulcos. O processoerosivofavorece a perda de nutrientes para o desenvolvimento das plantas, e pode provocar o empobrecimentoe a acidificação do solo, principalmente quando ocorrem queimadas. A utilização exagerada de fertilizantese plantio constante do mesmo tipo de cultura – que retira da terra sempre os mesmos nutrientes – exaurem o solo.O resultado pode ser a queda da sua produtividade para o cultivo.

Os processos de salinização e de encharcamento do solo são responsáveis por aproximadamente 15% de perda de terras produtivas no mundo (FAO, 2015).

Prática de queimada em área agrícola para "limpar" os restos da produção anterior, no município de Paraty, Rio de Janeiro, 2012. Foto: Luana de Almeida Rangel

O manejo hídrico mal realizado degrada terras agricultáveis, pois a drenagem inadequada encharca o solo por provocar a subida do lençol freático, ou salinizá-lo, o que ocorre quando a drenagem ineficiente produz acumulação de sais na superfície e matam as plantas. Este processo é recorrente em climas áridos ou semiáridos, onde a precipitação é escassa e os sais não são lavados do solo, como em áreas do semiárido brasileiro.

A ONU estima que a atual taxa de desertificação sejapróxima de 21 milhões de hectares por ano, área semelhante a do estado do Paraná. Mudanças no clima são o principal fator por trás deste processo, que pode ocorrer tanto por causas naturais, quanto pela intervenção humana. Entre as últimas, intensificam a desertificação a emissão de poluentes, desmatamento e asobre utilização dos recursos hídricos.

Se não adotarmos práticas de conservação perderemos a base para a produção de alimentos. As florestas não se desenvolverão e, logo, faltará água. Por isto, devemos usar 2015, ano Internacional do Solo, para dar o alerta: sem cuidados vamos esgotar uma das bases para a sobrevivência humana.

Erosão acelerada em área de pastagem na bacia hidrográfica do rio São Pedro, município de Macaé, estado do Rio de Janeiro. Foto: Hugo Alves S. Loureiro, 2012

Luana Rangel é geógrafa e doutoranda em Geografia na UFRJ, com ênfase na área de planejamento e gestão ambiental e degradação dos solos.

Fonte: O Eco